O aumento da tensão entre Venezuela e Guiana na disputa pela região do Essequibo tem deixado autoridades brasileiras em alerta para uma possível evolução do conflito. Enquanto a diplomacia adota posição mais conciliadora, na fronteira, militares brasileiros reforçam o efetivo.
A escalada ocorre após a aprovação de um referendo sobre a anexação da parcela — que representa cerca de 70% do território guianês — aos domínios do governo venezuelano.
Nesse contexto, aparece o Brasil, que ocupa posição central por fazer fronteira com os dois países. Especialista ouvido pelo Metrópoles avalia que, caso a situação evolua a ponto de virar um conflito armado, é pouco possível que o governo brasileiro entre na guerra. O cenário mais provável é de que o país se junte a esforços internacionais para barrar a investida do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro.
“Considerando-se que há uma relação pessoal entre o ditador Maduro e Lula, o Brasil deveria jogar seu peso político para dissuadir Maduro de se chegar à essa situação”, sugere o advogado e doutor em direito econômico pela Universidade de São Paulo (USP) Emanuel Pessoa.
“Caso ela [guerra] ocorra, o Brasil deveria ajudar um esforço internacional para proteger a Guiana, já que a situação de conflito tornaria aquela área mais propensa ao tráfico de drogas”, completa.
Nessa quarta-feira (6/12), o presidente da Guiana, Irfaan Ali, afirmou que espera que o governo brasileiro adote uma posição de liderança frente à escalada das tensões.
O Itamaraty tem defendido uma solução pacífica para o conflito. “O Brasil acompanha a situação e transmitiu às partes seu posicionamento, ressaltando a importância do diálogo para a resolução pacífica da questão”, informou em nota enviada ao Metrópoles.
Maduro mostra mapa da Venezuela com indexação de parte da Guiana que será distribuído em escolas
Maduro mostra mapa da Venezuela com indexação de parte da Guiana que será distribuído em escolas
O presidente da Guiana, Irfaan Ali
O presidente da Guiana, Irfaan Ali
Reprodução
Nicolas Maduro Meets Colombian Chancellor After Reestablishing Diplomatic Relationships
Nicolas Maduro
Pedro Ramses Mattey/Getty Images
presidente da Venezuela, Nicolás Maduro ao lado do presidente Lula, saindo do palácio do Itamaraty após almoço realizado um dia antes da reunião com os presidentes dos países da América do Sul 3
O ditador Nicolás Maduro e Lula
Igo Estrela/Metrópoles
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Aumento da tensão
No último domingo (3/12), o governo de Maduro promoveu um referendo sobre a anexação da região. A consulta terminou com 96% dos cidadãos favoráveis à incorporação do território. A informação foi divulgada pelo Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela, que é controlado pelo mandatário venezuelano.
Desde então, ele tem elevado o tom contra o país vizinho. Na noite de terça-feira (5/12), Maduro anunciou a proposição de uma lei para criar uma província na região em disputa com a Guiana. Além disso, apresentou um mapa com o território já indexado que será distribuído nas escolas do país.
Militares brasileiros de alta patente avaliam que a invasão do território será pelo mar, não por terra, conforme noticiado pela coluna Igor Gadelha, do Metrópoles.
Um principais motivos é que a área da fronteira entre Venezuela e Guiana é formada basicamente por selva, o que dificultaria o deslocamento de viaturas e tropas de Maduro. A outra opção, portanto, seria chegar à região de Essequibo por meio da fronteira do Brasil com a Guiana, que tem vegetação menor.
Mapa da disputa entre Venezuela e Guiana
No entanto, o governo brasileiro sinalizou que não vai permitir que essa movimentação ocorra. Recentemente, o Exército brasileiro reforçou a presença militar nas cidades de Pacaraima e Boa Vista, em Roraima. Segundo o órgão, a ação já constava no Planejamento Estratégico do Exército e visa “atender, em melhores condições, à missão de vigilância e proteção do território nacional”.
Ao menos 16 viaturas blindadas serão deslocadas do Sul e do Centro-Oeste do país para a região da fronteira. A previsão é de que os veículos levem cerca de 20 dias para chegar à capital de Roraima. “Atualmente, no lado brasileiro, o movimento na fronteira tem sido normal”, informou o Exército.
Origem do conflito
A província de Essequibo tem área de 159.500 km², que representa cerca de 70% do território da Guiana. O interesse pelo domínio da região acirrou-se após a descoberta de grandes jazidas de petróleo, em 2015. Novas revelações do recurso, em outubro deste ano, elevaram a pressão na disputa pela região.
A Guiana alega que a questão foi resolvida em 1899, por meio da Sentença Arbitral de Paris, que determinou as fronteiras dos territórios da Guiana Britânica. O governo da Venezuela, no entanto, alega que o Acordo de Genebra de 1966 reconhece a reivindicação venezuelana.