São Paulo – Nesta quarta-feira (6/7), a Polícia Federal (PF) cumpriu mandados de busca e apreensão na casa de Eduardo Monteiro Wanderley, dono da Petra Gold, empresa investigada por emitir mais de R$ 300 milhões em debentures sem lastro e sem autorização e dar um tombo no mercado. Depoimentos de testemunhas de dentro da própria empresa levaram a PF a descobrir que seu sócio tinha uma vida de luxo, com direito a mansões e barcos, bancada pelo do caixa da companhia.
A ex-contadora da Petra Gold, Bruna Monteiro, relatou à PF que teve seu primeiro “ruído” com Eduardo Wanderley quando “ele determinou” que ela “arrumasse uma solução para a saída de R$ 5.300.000,00 (cinco milhões e trezentos mil reais) do caixa da empresa, pois ele havia comprado uma casa no bairro da Gávea e tinha que pagar”. Segundo ela, a casa foi paga à vista.
Ela afirmou ter lançado o valor como um “empréstimo ao sócio, mas Eduardo queria que fosse lançado como adiantamento de dividendos”. “Eduardo queria mostrar aos investidores a saúde financeira da empresa, então não queria que esse registro aparecesse na contabilidade como empréstimo”, disse.
A secretária executiva da Petra Gold, Débora Rodrigues, disse que barcos de Eduardo batizados de “Day Trade III” e Day Trade II” tinham sido adquiridos com dinheiro da empresa. Ela afirmou que ele também tinha gastos com roupas e resturantes e até mesmo seguranças pessoais “sem necessidade”. Ela contou que demorou para perceber que a gastança vinha de uma farra com dinheiro da empresa.
Laise Barroso, responsável pelo financeiro da empresa, disse ter sabido de um contrato de um contrato de empréstimo entre Eduardo e a empresa para a compra da casa e que “ninguém o questionava sobre esses gastos, sobretudo porque ele reagia mal ao ser criticado”. Segundo ela, “todos acreditavam em Eduardo porque ele tinha uma imagem de sucesso e pelos comunicados de que estava indo tudo bem na empresa”. Ele vivia promovendo comemorações pelo “atingimento de metas”.
A investigação
Segundo a PF, a Operação Loris mira a atuação da Petra Gold após a empresa ter “grande projeção no cenário carioca ao emitir debêntures, ofertadas publicamente sem autorização da CVM, captando assim centenas de milhões de reais”.
A empresa patrocinou eventos, museus, esportistas, além de adquirir um teatro, em área nobre do Rio de Janeiro, com o propósito de difundir o nome do grupo.
A suspeita é de lavagem de dinheiro, emissão ilegal de debêntures e gestão fraudulenta de instituição financeira. Se condenados podem pegar até trinta anos de reclusão.
O nome da operação, Lóris, é uma referência ao único primata venenoso, que possui aparência dócil e receptiva, ocultando o risco que o contato com ele causa.
Sobre a empresa
De acordo com o site da Petra Gold, a empresa tem sede no Rio de Janeiro, e filial em São Paulo. O grupo iniciou as operações em 2008, no ramo da construção civil.
Em 2016, estendeu sua atuação para o mercado financeiro, com a criação da PetraGold Serviços Financeiros S/A, fundada pelo empresário Eduardo Wanderley.
Atualmente, conta com cerca de 200 colaboradores. O grupo atua nos segmentos de Conta Digital, Meios de Pagamento (Goldpay), Consórcios, Seguros e assistências. O Grupo também tem uma Gestora de Investimentos e atua na área de Câmbio para exportação e importação.
Na área cultural, faz parte do Grupo o Teatro PetraGold, localizado no Leblon (RJ). Além disso, patrocina o Museu de Arte Moderna (Mam) do Rio de Janeiro e o Museu de Arte do Rio (Mar). Em 2020, o grupo também patrocinou o Campeonato Carioca.
CVM
Em abril de 2021, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) determinou a que Petra Gold Serviços Financeiros S.A. e Índigo Investimentos Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários Ltda. se abstenham de realizar a oferta pública de debêntures.
A autarquia apurou indícios que a Petra Gold Serviços Financeiros S.A., assim como seu sócio, Eduardo Monteiro Wanderley, estariam realizando operação fraudulenta no mercado de capitais, por meio dessa oferta. A CVM também estabeleceu multa diária no valor de R$ 100 mil em caso de descumprimento da decisão.