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Pequenos roubos (por Ricardo Guedes)

O Brasil pune os crimes dos pobres, é conivente com os deslizes das classes médias, e complacente com os grandes crimes. Os pequenos roubos são aqueles que levam o pobre à cadeia, como roubar uma galinha por fome. Os deslizes das classes médias são aqueles que, a não ser que sejam flagrantes de primeiro grau, são geralmente minimizados. Os grandes roubos são aqueles que, juridicamente, são quase impossíveis de se provar, pois são condizentes com a estrutura de poder, política e econômica, feitas para a sua absolvição quase que imediata, e quase sempre permanente. No grande roubo, a classe pobre submerge, a classe alta se locupleta, e a classe média se perplexa, na percepção infausta de sua incapacidade política e social. Daí, a sua tendência atual ao fascismo. Na economia, a maior avidez, nem sempre meritória, pelos ganhos. Na política, o mais completo dissenso. Não há país que vá para a frente se não houver um mínimo de consenso, um acordo entre as partes, que funcione, razoavelmente, para todos. Nas pessoas, a desesperança. Somos todos iguais, mas bem diferentes.

Na pesquisa Sensus, 10% dos brasileiros concordam em “obter atestado falso para faltar ao trabalho”, 10% em “falsificar idade para obter emprego”, 15% em “dirigir pelo acostamento”, 25% em “furar a fila”. 60% consideram que o brasileiro “sonega muito os impostos”, outros 25% que “sonegam um pouco”, chegando a 85% a percepção de sonegação no país. São números expressivos.

Roberto DaMatta, em “O que faz do brasil, Brasil”, o primeiro Brasil com b minúsculo, de nossa distribuição de renda, o segundo com B maiúsculo, do ufanismo com os nossos valores, como no futebol e no carnaval.  Em uma interpretação livre, fala-nos sobre os dois Brasis, o da desesperança e o da volúpia. Vivamos as sextas-feiras e os sábados, dignos que somos do inverso do “E agora José” de Drummond de Andrade, da volúpia e da infâmia, do outrora findo de agora.

A tentativa frustrada da venda das joias da Arábia, é pequena perto da suposta tentativa de Golpe de Estado, que poderia ter mudado nefastamente os rumos do país, com prejuízos para milhões de brasileiros, mas já envolta na malácia da dissolução. Uma sociedade quinto-centenária, em sua tradição arbitrária e desigual, sob a qual padecemos, em sua maioria. Aonde vamos como país?

Ricardo Guedes é Ph.D. pela Universidade de Chicago e CEO da Sensus

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