Eram tempos horríveis, revolução violenta, cobra não saía do galho, onça não colocava a pata fora da toca e o jacu se esbaldava com as suas danças mais amazônicas. Os bichinhos pulavam e mostravam a todos os caboclos onde iriam fazer os seus ninhos.
O Dr. Aldemir, engenheiro estradeiro dos mais competentes que a Construtora Andrade Gutierrez já teve, subiu o barranco e foi de encontro ao caboclo que apreciava, sentado nos seus calcanhares, a imensa movimentação de terra que os tratores estavam fazendo para dar vida a uma estrada que, finalmente, uniria o Brasil do Norte ao americanizado povo de um Brasil do Sul. O Presidente Castelo Branco esticava o pescoço quando lia os relatórios sobre o desenvolvimento das cidades, com a passagem da estrada pelas suas ilhargas.
– Bom dia, Seu Menino! Tá gostando da obra? Vai uma cachacinha?
O mágico “caboquinho” fez surgir, do nada, uma faquinha, e foi dizendo:
– Dotô, deixe eu pegar umas cajaranas e um salzinho para a branquinha descer melhor. O que é que os senhores vão fazer aí por baixo… mermu?
O sal, as cajaranas e duas canecas de alumínio por cima do tamborete, já mostravam a grande aula que iria acontecer. O Dr. Aldemir jogou o líquido nas canecas, bandou as canaranas, passou o sal e disse, antes de beber o precioso líquido:
– Ô ôme, essa será a estrada da integração, aquela que vai ligar os dois Brasis. O moderno e rico Brasil do Sul a este nosso Brasil do Norte, tão carente de tudo. Aí passará a BR-319, a redenção do homem do norte.
– Dotô, o senhor tá me dizendo que aí embaixo vai passar uma estrada? Aquelas onde passam os carros e os caminhões? E jogou a sua parte de cana e tira-gosto pra dentro.
– É isso aí, Meu Querido!
– Mas Dotô, o senhor já viu onde o jacu tá fazendo o seu ninho?
– O que tem o ninho do jacu com a estrada, Gente Boa?
– Ali onde o jacu está fazendo seu ninho é que chegará a água da próxima enchente. Eu tenho certeza que a sua estrada vai ficar debaixo d’água, daqui a dois meses. O caboclo viu a mudança de cor, no rosto do engenheiro, e foi separando mais duas doses.
O Dr. Aldemir, especialista em estradas da Amazônia, mandou parar os trabalhos e comunicou os chefes da engenharia, em Minas Gerais. O prejuízo seria incalculável se as previsões do caboclo se concretizassem. A massa pensante da Gutierrez resolveu acreditar no amazônida, fizeram uma pesquisa mais ampla no trecho e os trabalhos foram paralisados e transferidos para um outro local. A Construtora deixou um baita prejuízo nas goladas de cachaça com cajarana e todos saíram satisfeitos para a eternidade.
Se a nossa querida Ministra Marina permitir, a estrada do atraso poderá ser a obra dos séculos e eu pegarei meus filhos e netos, a doce Ministra pegará Leonardo di Caprio, Greta TINTIN Thunberg, umas Rainhas e outros Stédiles para sairmos caminhando e cantando no nosso passeio pela hiléia:
Vamos passear na floresta
Enquanto a mutuca não vem
Chama também o anofelino
Que tem fama de bom menino
Minha querida e linda Ministra, aceite as aulas do jacu, deixe o seu povo ter o que os outros já adquiriram. A senhora sabe que as futuras gerações não merecem passar pelo que a nossa passou. Os torpedos de oxigênio chegarão com mais rapidez aos narizes dos nossos pacientes covidianos, os rios passarão a ser alternativas e o avião será um outro meio de transporte. Nós não temos que morrer asfixiados, como meus amigos de infância morreram, porque a sua turma, nas maternidades, assinou um compromisso com o atraso. Os ET’s, que por aqui passeiam, em aeronaves acrianas, continuarão seus voos panorâmicos, pelas mais lindas e floridas copas de árvores.
Roberto Caminha Filho, economista, conhece 75 países e detesta o atraso por opção.