No jogo da corda, um dos lados conseguiu um puxão forte, capaz de forçar o adversário a atravessar a linha para lá do seu território, mas logo de seguida veremos como o lado desequilibrado recupera forças para levar os seus oponentes a ficar de joelhos. Substitua-se adversário por inimigo, que infelizmente aqui trata-se de guerra, e este é o momento que se vive após o ataque do Hamas.
Nesta guerra interminável, ao horror e destruição segue-se horror e destruição. Israel suportou um rude golpe, que deixa o seu Governo em maus lençóis, muito particularmente por os serviços de segurança não terem sido capazes de prever um ataque de uma dimensão inédita em décadas. Pelo 50.º aniversário de outro falhanço de informação, a Guerra do Yom Kippur, várias unidades armadas do Hamas entraram, a partir de Gaza, em território controlado pelos israelitas, atacando indiscriminadamente militares e civis. A um acto inequivocamente condenável, os israelitas irão responder de forma brutal nas próximas horas.
Os militares do Hamas evocaram a Mesquita de Al-Aqsa, um local central no conflito israelo-palestiniano. Situada no Monte do Templo, local sagrado para árabes, judeus e cristãos tem sido um barómetro para aferir do instável equilíbrio entre os dois povos. Integrado na Cidade Velha de Jerusalém, foi anexado por Israel durante a guerra dos Seis Dias, em 1967, mas muitos países ainda o consideram território ocupado. Ao longo dos anos, foi sempre palco de tensões de que resultaram uma Intifada e, em 2021, um conflito aberto entre forças israelitas e palestinianas.
O complexo é administrado por uma fundação jordana, mas são os israelitas os responsáveis pela segurança. A visita de membros de diferentes religiões sempre foi aceite, mas cristãos e judeus eram impedidos de rezar, para evitar confrontos. Mas tal como na história recente de Israel, a força dos nacionalistas foi-se acentuando, e em tempos mais recentes, apesar de a lei dizer o contrário, passaram a registar-se orações de judeus e cerimónias religiosas. Em Al-Aqsa, como no resto, a posição dos palestinianos é cada vez mais vulnerável.
Acossado por um Governo israelita radical, que gradualmente vai instaurando um regime segregacionista e não tem qualquer vontade de chegar a um entendimento com os palestinianos, com esta acção o Hamas reage também aos sinais que vários países árabes têm dado de aproximação aos israelitas. Fazem-no da pior maneira, mas continuam a mostrar que, enquanto não houver uma solução para a Palestina, não haverá paz, nem em Al-Aqsa nem no Médio Oriente.
(Transcrito do PÚBLICO)