Nenhum país do mundo tem o acervo de Israel em inteligência. Apesar disto, a política externa israelense não consegue construir uma nação em paz com seus vizinhos porque, ao serem provocados por grupos terroristas, seus dirigentes abandonam a inteligência da diplomacia, construtora da convivência no longo prazo, e optam pelo poder militar, da destruição da população palestina. Caem nas armadilhas dos que precisam incentivar o radicalismo que se retroalimenta impedindo a paz e promovendo o ódio que os terroristas precisam.
O Hamas aproveitou um primeiro-ministro israelense fragilizado politica e moralmente, sem estatura de estadista, defensor da ocupação de todo o território palestino. Seus terroristas invadiram Israel, assassinaram e sequestraram centenas de civis e conseguiram provocar a reação militar contra a população de Gaza. Sacrificaram seus próprios irmãos palestinos soterrados em escombros, mas venceram porque mataram a inteligência que caracteriza a história e o pensamento judaico.
Sobre os escombros de Gaza e os cadáveres de crianças palestinas, o Hamas venceu ao trazer Israel para a barbárie. Mesmo que o exército de Israel mate todos os militantes do Hamas e seus irmãos, primos e netos, e destrua todos os prédios onde eles habitam, no longo prazo Israel não terá ganho a guerra, porque muitos dos que se opõem ao Estado de Israel devem estar usando a destruição de Gaza e as imagens de crianças soterradas para alimentar o antissionismo (contra a criação do Estado de Israel) e o antissemitismo (contra o povo judeu). O Hamas conseguiu diminuir o número dos que dizem: “faça o que fizer o governo de Israel com as crianças de Gaza, continuarei respeitando e admirando o povo judeu”.
O mundo precisa continuar a respeitar e ser solidário com os judeus, não esquecer as diásporas, genocídios, holocaustos, guetos que eles sofreram, mas Israel precisa de estadistas que não pratiquem diáspora, genocídio, holocausto, guetos contra os palestinos.
Segundo Hannah Arendt, o nazista gestor da “solução final” foi um burocrata banal movido pelo clima antissemita, hoje os dirigentes israelenses são políticos banais com obsessão por solução militar, sem inteligência política nem diplomática, sem visão de longo prazo, movidos pelo clima de raiva provocado por um insano e bárbaro grupo terrorista. Políticos banais que para atender ao explicável desejo de vingança dos eleitores israelenses, cometem o erro moral de explodir bombas contra famílias para atingir um bandido que está no meio, e o erro histórico de comprometer seu próprio país, mantendo-o em guerra permanente; além de provocar a erosão do apoio internacional para a causa do direito de Israel a sua sobrevivência. Presos ao imediato, reagindo a terroristas, os polticos banais usam o direito de Israel a se defender no presente contra alguns terroristas, e matam a chance de convivência no longo prazo com os palestinos. O ódio e a raiva matam a inteligência e dão ao Hamas a vitória de serem confundidos com o povo que sacrificam. Matam alguns indivíduos criminosos dando-lhes a vitória da sobrevivência e fortalecimento da ideia do antisionismo. A morte da inteligência impede os políticos banais de Israel agirem para matar as ideias que alimenta o terror. Matam alguns ou todos terroristas insanos alimentando as ideias insanas que seguirão motivando novas gerações.
Se fossem estadistas, denunciariam a brutalidade desumana dos terroristas, preparariam as armas, mas convenceriam seus eleitores de que o momento da vitória chegaria com o apoio do mundo inteiro, inclusive de palestinos, chocados com os atos do Hamas e com a própria tragédia social em que vivem sob o governo deste partido insano. E formulariam um mapa para a construção de Dois Estados convivendo em paz. Esta seria a verdadeira derrota do Hamas, sem dar-lhes o combustível de milhares inocentes soterrados nos escombros que servirão de plataforma para ampliar o terrorismo, o antissionismo e o antissemitismo.
Cristovam Buarque foi ministro, senador e governador