O ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, disse, nesta quinta-feira (21), que vai pedir acesso às informações da delação do tenente-coronel Mauro Cid à Polícia Federal (PF).
“Não tenha dúvida nenhuma [que vamos pedir acesso às informações]. Agora, acho que o tempo é da Justiça, e a Justiça é que vai decidir isso”, disse o ministro a repórteres em frente ao Ministério da Defesa.
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“Na hora que as Forças Armadas decidiram que a gestão disso seria da Justiça e do ministro [do Supremo Tribunal Federal (STF)] Alexandre de Moraes, nós ficamos apenas aguardando que os processos fossem conclusos para que nós pudéssemos tomar as providências”, completou.
O ex-ajudante de ordens afirmou à PF que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) se reuniu com a cúpula do Exército, da Marinha e da Aeronáutica para discutir detalhes de um plano de golpe para não deixar o poder. O encontro teria ocorrido quando Bolsonaro ainda estava na presidência, após as eleições do ano passado.
No encontro, as Forças Armadas teriam sido consultadas sobre a possibilidade de uma intervenção militar. A resposta da cúpula da Marinha, ainda segundo Mauro Cid, teria sido que as tropas estavam prontas para agir, apenas aguardando uma ordem dele. Já o comando do Exército não teria aceitado o plano.
Múcio disse que não teve acesso a nenhuma informação sobre a delação: “Eu vivo das informações que vocês da imprensa divulgam de manhã cedo.”
“Gostaria muito de tê-las até para que pudéssemos tomar as providências, mas nós não temos essas informações”, acrescentou.
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Múcio deve falar sobre delação com comandantes das Forças: “Suspeição coletiva incomoda”
O ministro também destacou que as notícias envolvendo a antiga cúpula das Forças Armadas “não mexe conosco porque trata-se de pessoas que pertenceram aqui”.
“Evidentemente que constrange esse ambiente que a gente vive. Essa aura de suspeição coletiva nos incomoda. Mas essas declarações, essas coisas que saíram hoje são relativas ao governo passado, a comandantes passados. Não mexe com ninguém que está na ativa”, completou.
Múcio disse que pretende conversar com os comandantes atuais das Forças sobre as notícias envolvendo a delação de Cid e um plano de golpe envolvendo militares.
Ele explicou que já tinha um encontro marcado com almirante Marcos Sampaio Olsen, que comanda a Marinha, por outros assuntos. “Eu vou estar presencialmente por outro assunto, e esse será um dos assuntos com o almirante Olsen”, disse Múcio.
“Acho que com o brigadeiro [Marcelo] Damasceno [da Força Aérea] também por conta de outros assuntos. Mas o general Tomás [Paiva, comandante do Exército] está em Tabatinga, no norte do Amazonas, de maneira que, pessoalmente, só vou falar com ele na sexta-feira (22)”, acrescentou o ministro.
Múcio disse que acredita que os comandantes dirão “a mesma coisa”: “Nós não temos nada além do que vocês [da imprensa] informaram.”
Só uma coisa eu tenho absolutamente certeza cristalina: o golpe não interessou em momento nenhum às Forças Armadas. São atitudes isoladas de componentes das Forças. Mas o Exército, a Marinha e a Aeronáutica, nós devemos a eles a manutenção de nossa democracia.
José Múcio Monteiro, ministro da Defesa
Cid diz em delação que Bolsonaro discutiu plano de golpe com cúpula do Exército, Aeronáutica e Marinha
O tenente-coronel Mauro Cid disse à Polícia Federal que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) se reuniu com a cúpula do Exército, da Marinha e da Aeronáutica para discutir detalhes de um plano de golpe para não deixar o poder. O encontro teria ocorrido quando Bolsonaro ainda estava na presidência, após as eleições do ano passado.
A informação confirmada pela CNN foi revelada primeiramente por O Globo e UOL.
Segundo fontes com acesso à investigação, Cid detalhou duas situações. Em uma delas, cita que Bolsonaro recebeu em mãos uma minuta golpista. Em outro momento, o ex-ajudante de ordens detalha a reunião com a cúpula militar.
No encontro, as Forças Armadas teriam sido consultadas sobre a possibilidade de uma intervenção militar.
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A resposta da cúpula da Marinha, ainda segundo Mauro Cid, teria sido que as tropas estavam prontas para agir, apenas aguardando uma ordem dele. Já o comando do Exército não teria aceitado o plano.
Esse depoimento sobre plano golpista e minuta do golpe é um dos pontos analisados na delação premiada fechada por Mauro Cid com a Polícia Federal.
O tema é tratado com cautela e sigilo. Para os fatos serem validados e as pessoas citadas pelo tenente-coronel serem eventualmente responsabilizadas, é preciso que haja provas que corroborem as informações repassadas pelo ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro.
Em nota, o advogado de Cid, Cezar Bitencourt, disse que não confirma o conteúdo da delação por se tratar de assunto sigiloso.
Procurada, a defesa de Bolsonaro ainda não respondeu à reportagem.
A CNN também entrou em contato com Exército, Marinha e Aeronáutica. Mas ainda não teve retorno.
Este conteúdo foi originalmente publicado em Múcio vai pedir acesso às informações de delação de Cid sobre plano de golpe com militares no site CNN Brasil.