O Ministério Público Federal (MPF), por meio da Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão no Rio de Janeiro, arquivou pedido para impedir a realização de shows do cantor britânico Roger Waters, cofundador da banda Pink Floyd, no Brasil.
O pedido foi protocolado após uma apresentação, realizada em 17 de maio, em Berlim, Alemanha, onde músico usou um uniforme de estilo nazista no palco, levantar acusações de antissemitismo contra o britânico. Nas redes sociais, Waters disse que a exposição de simbolos nazistas era “claramente” uma crítica contra fascismo, a injustiça e o fanatismo.
Na decisão, o MPF afirmou que “os símbolos foram usados com a finalidade de criticar e não apoiar o regime nazista”. “O órgão entendeu que as medidas requeridas são desproporcionais para o caso, visto que as manifestações estão protegidas pela liberdade de expressão”.
MPF observa crítica ao nazismo
Além de usar roupa que lembrava o uniforme de oficiais da organização paramilitar nazista Schutzstaffel (SS), Roger Waters usou uma braçadeira vermelha, simulou disparos com uma metralhadora falsa e inflou balões em formato de porcos com desenhos da Estrela de Davi.
Para os procuradores regionais dos direitos do cidadão Jaime Mitropoulos, Julio José Araujo Junior e Aline Caixeta, “avaliadas fora de contexto, as imagens de Waters vestindo um uniforme e uma braçadeira com alusão a símbolos nazistas levam a crer que o cantor seria um apoiador de regimes autoritários e da perseguição contra o povo judeu”.
“Contudo, observando o contexto específico do show e da trajetória de pensamento político de Roger Waters, percebe-se, em verdade, uma expressão crítica aos que se opõem a esse grupo”, concluem.
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Roger Water, cofundador do Pink Floyd, está sendo investigado pela polícia alemã após utilizar um casaco preto e braçadeiras vermelhas, uniforme comumente utilizado por nazistas durante um show
Reprodução/Twitter
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Na apresentação, de acordo com as imprensas alemã e de Israel, Roger Waters preencheu o telão com o nome de várias pessoas mortas, como o de Anne Frank, que morreu em um campo de concetração nazista, Sophie Scholl, do movimento de resistênsia alemã antinazista, a Rosa Branca, morta em 1943, George Floyd, entre outros
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A apresentação aconteceu em Berlim, na Alemanha, no último dia 17
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A turnê no Brasil
Com o objetivo de “evitar a propagação do discurso de ódio contra judeus e de apologia ao nazismo”, os advogados autores da representação contra Waters solicitaram ao MPF providências para impedir a entrada do cantor no Brasil, além de cancelar a turnê em cidades brasileiras — marcada para outubro e novembro.
Sob a alegação de que o cantor teria cometido crime contra a humanidade em Berlim, o artigo 45 da Lei de Migração seria aplicado para proibir o ingresso de Waters no país.
Censura prévia
Segundo o MPF, atender os pedidos poderia configurar censura prévia, o que é vedado na legislação brasileira. Manifestações artíticas não podem ser proibidas e circular, sob pena de se desvirtuar os valores presentes em uma “sociedade democrática e plural”.
“Na democracia, as pessoas possuem capacidade crítica e possibilidade de autodeterminação, cabendo a elas decidir qual tipo de conteúdo desejam consumir e qual tipo de reação terão frente a ele”, defendem.