O encontro do G20 em Nova Delhi reafirma o papel do Presidente Lula como um expoente da liderança planetária, mas que ainda não tem o discurso certo.
Ao colocar sob suspeição o papel e a força do Tribunal Penal Internacional, se isola da maioria de países que percebem a importância de uma justiça internacional contra genocidas e ditadores. Usar o argumento de que os Estados Unidos não reconhecem o TPI não aumenta a simpatia do mundo por Lula. O próprio Lula disse uma vez que Bolsonaro seria um dia julgado e preso por um tribunal internacional por ter negado vacina ao povo brasileiro.
Para ser um líder planetário, em vez de contestar, Lula precisa defender a ampliação do escopo do TPI para outros crimes contra a humanidade: como o ecocídio cometido por agentes públicos e por empresários privados contra o meio ambiente, ou a corrupção que priva o povo dos recursos públicos para projetos sociais. No lugar de defender a soberania de países para cometerem crimes contra a humanidade, Lula deveria ampliar os tipos de crimes a serem julgados.
Da mesma forma, o presidente perde liderança quando busca obsessivamente uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU, para o Brasil. Este era um pleito que se justificava no presidente Fernando Henrique Cardoso, que não tinha propósito nem condições de ser um líder planetário: almejava apenas ser tratado como um entre os grandes líderes nacionais. Lula pode ser mais que isto. Pode ser um líder planetário propondo alternativas progressistas para o mundo. No lugar de propor uma reforma buscando fazer parte dos privilegiados, aumentando de cinco para dez o grupo dos que se julgam superiores aos outros 200 países, o discurso de Lula deve propor reforma progressista: abolir membros permanentes no Conselho de Segurança.
O Presidente Lula precisa ouvir as vozes e as necessidades do mundo, não apenas os aplausos dos que o rodeiam, mesmo quando ele falha. Esta semana ele terá a chance de fazer seu maior discurso: na abertura da Assembléia das Nações Unidas. Precisa cobrar um tratamento humanista para os migrantes, com uma Bolsa Família Internacional. Propor o fim dos membros permanentes no Conselho de Segurança, não apenas a reforma fake de aumentar o número de países, para incluir o Brasil entre os privilegiados.