O magnata da segurança e da terceirização Washington Cinel conseguiu um empréstimo de R$ 510 milhões no Banco do Nordeste (BNB) dando como garantia uma fazenda que só estava em seu nome devido a um outro empréstimo contraído com os vendedores.
Como mostrou o repórter Luiz Vassallo, Cinel, dono do grupo que controla a Gocil, uma das maiores empresas de segurança privada do país, tem dívidas que somam R$ 1,76 bilhão. Ainda assim, ele conseguiu R$ 510 milhões em um empréstimo no Banco do Nordeste em operação aprovada ainda no governo Jair Bolsonaro, de quem Cinel foi um fiel apoiador.
A fazenda foi comprada por Cinel, em 19 de junho de 2021, da empresa Enforce, controlada pelo BTG e que atua no setor imobiliário, por R$ 42 milhões, com um pagamento previsto em várias parcelas.
Para usar a fazenda como garantia para o empréstimo no BNB, mesmo sem ter quitado o pagamento, Cinel fez uma negociação. Em 27 de julho de 2022, ele entregou ao BTG uma apólice de seguro de R$ 28 milhões, equivalente a sua dívida em aberto naquele momento, para efetuar a transferência da propriedade para o seu nome.
A Enforce aceitou trocar a garantia da propriedade rural pela apólice, mas Cinel continuou devendo. A previsão é que ele terminaria de pagar somente em 2025 as parcelas referentes à compra da propriedade.
CRÉDITO DO BNB FOI LIBERADO DIAS ANTES DE PEDIDO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL
Crédito do Banco do Nordeste foi liberado dias antes de pedido de recuperação judicial do grupo de Washington Cinel, e fazenda no Maranhão foi dada em garantia
Foto: Perícia Judicial
FAZENDA DE EMPRESÁRIO FOI DADA EM GARANTIA A EMPRÉSTIMO DO BNB
Uso de fazenda como garantia pode ajudar empresário a blindar seu patrimônio de credores
Foto: Perícia Judicial
FUNCIONÁRIOS EXIBIRAM À PERICIA IMAGENS DE FAZENDA DADA EM ALIENAÇÃO AO BNB – METRÓPOLES
Funcionários de Washington Cinel mostraram à peritos da Justiça mapa da fazenda em Balsas, No Maranhão
Foto: Perícia Judicial
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Mesmo considerando que o valor da terra bruta fosse de R$ 42 milhões, o BNB avaliou a fazenda como terra produtiva no valor de R$ 325 milhões, o que possibilitou a liberação de um empréstimo de meio bilhão de reais. A avaliação da terra chamou a atenção no mercado devido à discrepância em relação ao investimento que Cinel havia feito apenas alguns anos antes.
O valor recebido do Banco do Nordeste deu fôlego à empresa de Cinel, a Gocil, permitindo que tivesse recursos para aditar um contrato no valor de R$ 148 milhões com a CPTM, órgão do estado de São Paulo, onde o empresário possui um longo histórico de contratos.
O grupo que controla a Gocil entrou em setembro com um pedido de recuperação judicial, que ainda não foi homologado, mas já foi questionado pelos credores.
O Banco do Brasil afirmou que Cinel “ostenta uma vida de luxo” e que quer viver às custas de seus credores. O banco pediu à Justiça que obrigue o empresário a explicar seu patrimônio e que seja feita perícia para constatar se ele, de fato, está em crise que justifique a sua recuperação judicial.