São Paulo – Diretores de 50 faculdades, museus e institutos da Universidade de São Paulo (USP) divulgaram uma carta aberta nesta sexta-feira (29/9) para defender a instituição, que enfrenta uma greve de estudantes desde a semana passada.
Em uma transmissão ao vivo no canal da USP no YouTube, os diretores se revezaram na leitura do documento, destacando os esforços feitos pela universidade para a contratação de professores e a ampliação de políticas de inclusão e permanência de alunos.
As duas pautas são as principais reivindicações da greve estudantil.
“A direção da universidade, seus diretores e a Reitoria, estiveram atentos a essas questões. Há vários anos a universidade vem investindo na política de ingresso e permanência estudantil”, diz trecho da carta.
O documento afirma que a USP é um “patrimônio paulista e brasileiro”, responsável por formar milhares de profissionais e produzir pesquisas de impacto na sociedade, “sendo referência nacional e internacional”.
“Como um todo, a USP é responsável por um quinto de toda a Ciência que se faz no Brasil. Não é por acaso que está entre as 100 melhores do mundo, ocupando a 85ª posição no ranking mundial (2023)”, diz o texto.
Na sequência, os diretores afirmam que se orgulham de “formar cidadãos críticos e participativos” e respeitam a autonomia do movimento estudantil como parte do “compromisso democrático”.
“Este mesmo espírito uniu toda a comunidade uspiana tantas vezes ao longo de sua história, para lutar por direitos e pela democracia”, afirma o documento.
Os dirigentes, então, citam a mobilização dos alunos grevistas e afirmam que as manifestações da última semana já afetam “cerca de metade das escolas, faculdades, institutos e museus da universidade”.
“Embora boa parte delas esteja ocorrendo de forma pacífica, algumas têm recorrido a expedientes que não condizem com o ambiente acadêmico, envolvendo interdições físicas que bloqueiam o acesso aos espaços da universidade, em alguns casos acompanhadas por constrangimentos a professores, servidores técnico-administrativos e alunos”, diz a carta.
Desde o começo da greve, os alunos grevistas têm utilizado barricadas para evitar que professores e estudantes contrários à paralisação tenham acesso às salas de aula (veja fotos abaixo).
Popularmente conhecidos como piquetes, os bloqueios já foram utilizados em greves anteriores, mas ganharam repercussão neste ano ao serem feitos em unidades que não costumam aderir às paralisações, como os prédios da engenharia e do direito.
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Barricadas em frente às salas de aula são alvo de críticas
Jessica Bernardo / Metrópoles
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Método de empilhar carteiras em frente às portas é utilizado para evitar que alunos e professores furem a greve aprovada em assembleias
Jessica Bernardo / Metrópoles
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Na FAU, barricadas fecham espaços utilizados em aulas de desenho e projetos
Jessica Bernardo / Metrópoles
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Imagens internas da FFLCH, na USP, com piquete montado por estudantes em greve; eles protestam contra a falta de professores
Jéssica Bernardo/Metrópoles
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Piquete montado por estudantes em greve da FFLCH fecha uma das entradas do prédio dos cursos de Ciências Sociais e Filosofia
Jéssica Bernardo/Metrópoles
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Barricadas fecham acesso às salas de aula no prédio de Geografia da FFLCH – USP
Jessica Bernardo/Metrópoles
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Prédios da USP tem cartazes pedindo por mais professores
Jessica Bernardo / Metrópoles
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A carta dos diretores diz então que as demandas por contratações e inclusão de estudantes em situação vulnerável “inquietam a comunidade uspiana há anos”.
Os dirigentes citam a implantação da política de cotas na USP e a criação, mais recentemente, da Pró-Reitoria de Inclusão e Pertencimento (PRIP).
“No último vestibular, 54% dos alunos aprovados são provenientes de escolas públicas, com 27% de alunos pretos, pardos e indígenas, demonstrando a efetividade das políticas de inclusão no ingresso”, diz o texto.
O documento afirma que a USP ampliou em 60% o investimento em bolsas, “com reajuste de valores que não têm paralelo na história da universidade”.
“Do mesmo modo, no último ano a atual gestão Reitoral implementou um programa ambicioso de renovação do quadro docente da universidade, apoiado pelos diretores de todas as unidades, institutos, museus e membros do Conselho Universitário, com a distribuição de 879 novos cargos de docentes”, afirma a carta.
Os diretores dizem que do prazo de 8 meses para a tramitação dos concursos, “as contratações estão em franco progresso”, citando 240 novos docentes já contratados.
“Além disso, a USP retomou a contratação de servidores técnicos-administrativos, com 597 novas vagas para contratações”, diz o texto, citando a universidade é dinâmica e “não pode parar”.
O documento termina dizendo que a comunidade da USP trabalha para continuar construindo “uma universidade pública forte, formando gerações de cidadãos conscientes, profissionais competentes e pesquisadores dedicados, produzindo e disseminando conhecimento para termos uma sociedade cada vez melhor”.
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Protesto de estudantes em frente à reitoria da universidade; alunos pedem a contratação de mais professores
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Protesto de estudantes em frente à reitoria da universidade; alunos pedem a contratação de mais professores
Jéssica Bernardo/Metrópoles
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Protesto de estudantes em frente à reitoria da universidade; alunos pedem a contratação de mais professores
Jéssica Bernardo/Metrópoles
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Protesto de estudantes em frente à reitoria da universidade; alunos pedem a contratação de mais professores
Jéssica Bernardo/Metrópoles
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Prédio da Reitoria da USP com cartazes de protesto de estudantes, que pedem a contratação de mais professores
Jéssica Bernardo/Metrópoles
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Grade arrancada do espaço de convivência estudantil da ECA, na USP, durante protesto de estudantes contra a falta de professores
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Aluno caminha em direção ao prédio da ECA, na USP; estudantes estão em greve e pedem a contratação de mais professores
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Entrada da FFLCH, da USP, com cartazes relacionados à greve dos estudantes, que protestam contra a falta de estudantes
Jéssica Bernardo/Metrópoles
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Relembre o caso
Dados do Anuário da USP mostram que a universidade perdeu mais de 900 professores nos últimos oito anos. Em 2014, eram 6.090 docentes. Já em 2022, apenas 5.151 educadores trabalhavam nos campi da instituição.
A universidade alega que iniciou um processo para contratar 879 educadores e que 238 vagas já foram preenchidas, mas os alunos afirmam que o número é insuficiente já que parte das contratações será destinada a projetos de inovação e não à reposição dos quadros com desfalques.
Os estudantes defendem que a USP volte a fazer a reposição imediata das vagas abertas em casos de aposentadorias, como acontecia até 2014, segundo eles.