A guerra entre Israel e Palestina tem estimulado a islamofobia e o antissemitismo. É a cauda envenenada de todo conflito: provoca posturas individuais retrógradas e perigosas. Mesmo nos que estão longe do palco do confronto.
Nos tempos atuais, com as facilidades do mundo digital, qualquer pessoa chega na telinha e profere as mais violentas ofensas. As “Big techs”, de olho nos lucros, resistem a qualquer regulamentação.
No Brasil, tanto as federações muçulmanas quanto as israelitas têm registrado o crescimento dos discursos de ódio contra suas comunidades.
Nada de debater, com argumentos, as raízes do conflito no Oriente Próximo e os caminhos para sua superação. Prevalece a rasa “lacração”: ofensiva, preconceituosa e dogmática. Uma regressão autoritária.
A postura extremada e estridente fascina. Na internet – entre os jovens, sobretudo – é visível o aumento do uso da suástica nazista. Descendentes de árabes, com vestes da sua cultura, são xingadas nas ruas de nossas cidades. “Todo Narciso acha feio o que não é espelho”, cantou Caetano.
Os valores do Iluminismo, de agir com a razão, e os da Democracia, de respeito a todas as crenças – e ao “sagrado” direito de não crença – andam em baixa.
Confunde-se Nação com governo de ocasião. E Estado com povo. Tenta-se resolver as divergências calando o outro. Ou, pior, matando o diferente.
Atrocidades, que vitimam crianças, mulheres e a população civil, são naturalizadas em nome de “causa justa” e/ou “direito de defesa”.
Esse é o caminho da barbárie, da volta ao “cruzadismo” medieval. Se por acaso a humanidade acabar, por tanta estupidez, que pelo menos sobre algum vestígio mostrando que houve quem se opusesse à prepotência da ignorância e da ganância dos interesses econômicos que nos destruiu.
Cessar-fogo já e mesa de negociações! Respeito à diversidade cultural e religiosa.
Antes que seja tarde demais.
*Chico Alencar é escritor, professor de História e deputado federal eleito pelo PSOL-RJ
