São Paulo – Considerado o político mais influente da capital paulista, o vereador Milton Leite (União Brasil) articula um projeto de poder para 2024 que mira uma espécie de “tríplice coroa” em São Paulo: o inédito quarto mandato consecutivo como presidente da Câmara Municipal, o posto de vice na chapa do prefeito Ricardo Nunes (MDB) e a vice-presidência do Corinthians, clube de maior torcida na cidade.
Ao Metrópoles, Leite admite apenas a candidatura na chapa de André Luiz de Oliveira, o André Negão, para o comando do Corinthians, que já foi oficializada no clube. “O resto é especulação”, diz.
Essas “especulações”, feitas pelos seus principais aliados e também por adversários, são alimentadas por fatos que vão de uma arrojada mudança da Lei Orgânica do Município, a “constituição” do Estado, ocorrida no último dia 1º/11, para garantir sua reeleição na Câmara, a indicações para a candidatura a vice-prefeito de nomes como Valdemar Costa Neto, presidente do PL.
Retração e expansão
A expansão dos domínios do vereador, que na cidade detém controle do bilionário setor de Transportes e das obras nas subprefeituras da zona sul, ocorre após um momento de retração. Durante as gestões tucanas afrente do governo do estado, Leite também dominava a pasta estadual de Transportes. Após a derrocada do PSDB e a posse de Tarcísio de Freitas (Republicanos), entretanto, o vereador perdeu esse espaço.
O União só havia embarcado no projeto de Tarcísio no segundo turno das eleições do ano passado. Quando embarcou no projeto do ex-ministro de Jair Bolsonaro (PL), Leite se viu sem espaço. Tentou manter sua influência nos transportes, sem sucesso. Tentou então garantir a pasta da Habitação, mas perdeu uma queda de braço com Gilberto Kassab (PSD). No fim, conseguiu manter influência apenas na Companhia de Desenvolvimento Habitacional Urbano (CDHU).
No primeiro semestre, com o cálculo de que Tarcísio precisava dos oito votos da bancada União na Assembleia Legislativa (Alesp) e que seria possível recuperar espaço, Leite começou a ensaiar sua aposentadoria. Começou a dizer no plenário da Câmara que não tentaria um novo mandato e fomentou a candidatura de aliados para sucedê-lo na Câmara.
Mas, confirme os acordos na esfera federal não saiam, o vereador fez uma correção de cursos e avisou os vereadores que iria colocar em votação uma mudança na lei para se perpetuar no poder. Sua influência no Legislativo é tanta que até a bancada do PT votou seu projeto – um texto que estava parado no Legislativo desde 1992.
As eleições do Corinthians
Conselheiro do Corinthians, Milton Leite concorre ao cargo de primeiro vice-presidente do clube na chapa de André Negão. Os dois pertencem ao grupo político que comanda o clube há dezesseis anos e contam com o apoio do atual presidente Duílio Alves e do ex-presidente Andrés Sanchez, que foi deputado federal pelo PT.
O vereador tem dito a aliados que pretende atuar na articulação junto à Prefeitura para conseguir um acordo e reduzir os quase R$ 400 milhões de dívidas que o clube possui com a administração paulistana.
Os altos valores incluem R$ 86 milhões em dívidas de IPTU, entre 2014 e 2022, e R$ 311 milhões em outros impostos. O Corinthians é o segundo clube com a maior dívida do país – de R$ 1 bilhão – atrás apenas do Atlético-MG.
Vice-prefeito
Dos três objetivos, a indicação para vice-prefeito de Ricardo Nunes é o que tem mais dificuldades.
Como Nunes vem costurando uma ampla aliança de partidos para a disputa, que inclui PL, Republicanos e PSD, entre outras siglas, há concorrência considerável para o cargo. Aliados mais próximos de Nunes e de Tarcísio apontam que o prefeito daria o cargo para o partido do governador, em nome a cooperação mútua que ambos vêm fazendo ao longo desta ano.
Nunes, porém, mantém o PL esperançoso em ter o espaço, que poderia levar caso o partido consiga evitar que Jair Bolsonaro apoie outro candidato na cidade.
Internamente, Leite estaria dizendo a aliados do União que almeja o cargo. Parte dos aliados, porém, veem a fala como uma estratégia para conter os planos dos caciques que querem lançar o deputado federal Kim Kataguiri como nome próprio da sigla à Prefeitura.
O presidente da Câmara, porém, ainda não se movimentou para minar a candidatura de Kim. Aliados de Nunes entendem que essa também é uma estratégia. Ao manter aberta a possibilidade de seu partido lançar nome próprio, Leite teria mais força de barganha para disputar a indicação do posto de vice.