Desde 2013, a quantidade de suicídios no Distrito Federal tem registrado aumento considerável. De acordo com o InfoSaúde — página de dados da Secretaria de Saúde (SES-DF) —, há 10 anos, ocorrências do tipo representavam 6,6% do total de mortes consideradas violentas, que incluem homicídios, feminicídios e acidentes, por exemplo. Em 2023, episódios do tipo já correspondem a 14,8% do total. O cenário chama a atenção de especialistas que alertam para a necessidade de ação imediata de autoridades e melhoria nos serviços públicos voltados à saúde mental da população.
O Metrópoles teve acesso aos dados de casos ocorridos a cada ano e outros detalhes das ocorrências. Porém, por orientação de profissionais ouvidos nesta reportagem, algumas informações serão omitidas para evitar possíveis gatilhos.
“Os dados mostram que a faixa etária mais afetada é de 15 a 39 anos, o que indica que jovens e adultos jovens estão enfrentando dificuldades emocionais e psicológicas significativas. Isso pode ser resultado de pressões sociais, problemas de saúde mental não tratados e falta de apoio emocional”, avalia a psicóloga clínica e neuropsicóloga Juliana Gebrim.
Ainda em relação aos dados deste ano, o DF registrou 120 casos. O número é equivalente a 13 ocorrências do tipo por mês, considerando que os dados foram contabilizados até setembro. Já em 2022, o número absoluto chegou a 233, ou seja, 15,68% do total de mortes violentas registradas na capital em todo o ano.
Juliana explica que o suicídio é, muitas vezes, associado a doenças mentais ou estados emocionais angustiantes, mas nem todas as pessoas que cometem o ato extremo têm um diagnóstico formal de doença mental.
“Depressão, ansiedade, transtorno bipolar, de personalidade ou abuso de substâncias podem contribuir para o risco. Existem sinais que podem indicar que alguém está pensando em suicídio, como expressões de desesperança, mudanças no comportamento, sentimentos de culpa. Falar sobre morte ou suicídio, preparação para a morte, mudanças no sono ou apetite, agressividade ou irritabilidade excessiva. Aumento da impulsividade ou comportamentos de risco. É importante levar esses sinais a sério e buscar ajuda profissional imediatamente”, alerta.
Segundo Gebrim, o tratamento psiquiátrico é indicado quando o paciente apresenta sintomas persistentes e graves de transtornos mentais.
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Reconhecer as dificuldades e buscar ajuda especializada são as melhores maneiras de lidar com momentos nos quais a carga de estresse está alta
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Pessoas mentalmente saudáveis são capazes de lidar de forma equilibrada com conflitos, perturbações, traumas ou transições importantes nos diferentes ciclos da vida. Porém, alguns sinais podem indicar quando a saúde mental não está boa
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Estresse: se a irritação é recorrente e nos leva a ter reações aumentadas frente a pequenos acontecimentos, o sinal vermelho deve ser acionado. Caso o estresse seja acompanhado de problemas para dormir, é hora de buscar ajuda
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Alteração no apetite: na alimentação, a pessoa que come muito mais do que deve usa a comida como válvula de escape para aliviar a ansiedade. Já outras, perdem completamente o apetite
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Autoestima baixa: outro sinal de alerta é a sensação de incapacidade, impotência e fragilidade. Nesse caso, é comum a pessoa se sentir menos importante e achar que ninguém se importa com ela
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Desleixo com a higiene: uma das características da depressão é a perda da vontade de cuidar de si mesmo. A pessoa costuma estar com a higiene corporal comprometida e perde a vaidade
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Para receber diagnóstico e iniciar o tratamento adequado, é muito importante consultar um psiquiatra ou psicólogo. Assim que você perceber que não se sente tão bem como antes, procure um profissional para ajudá-lo a encontrar as causas para o seu desconforto
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Diagnósticos e ajuda
O psiquiatra e professor de medicina do UniCeub Lucas Benevides explica que o tratamento pode passar para a psiquiatria quando há diagnóstico de doenças mentais, risco iminente de autoagressão ou quando um profissional de saúde mental considera necessário acompanhamento especializado, que pode incluir medicamentos e/ou terapia.
O profissional afirma que o pensamento suicida surge após um período de insatisfação com a vida. “Antes, a natureza sinaliza com sinais mais sutis, como a vontade de dormir e não acordar”.
“Os dados indicam um problema de saúde pública preocupante no DF. O aumento no número de suicídios pode sugerir várias questões subjacentes, como problemas de saúde mental, econômicos, sociais ou até mesmo de acessibilidade a serviços de saúde. As idades das vítimas apontam para um grupo que potencialmente enfrenta desafios como pressões sociais e econômicas, transições de vida e questões de identidade, que podem ser fatores de risco para comportamento suicida”, completa Benevides.
Responsabilidade ao lidar com o tema suicídio
Os especialistas ouvidos pelo Metrópoles para a construção desta reportagem apontam que textos jornalísticos sobre o tema podem ajudar na prevenção, desde que feitos com responsabilidade. O psiquiatra Lucas Benevides frisa que a maneira como os meios de comunicação abordam o tema é crucial.
“Reportagens responsáveis e sensíveis podem ajudar na prevenção, promovendo a conscientização sobre a importância da saúde mental. No entanto, a cobertura sensacionalista ou detalhada pode ter um efeito negativo, levando ao que é conhecido como ‘efeito Werther’, ou suicídio por imitação. É essencial abordar a questão do suicídio de maneira multifacetada, envolvendo profissionais de saúde, políticas públicas, comunidade e mídia, para criar um sistema de suporte que possa efetivamente reduzir e prevenir o suicídio”, diz Benevides.
A psicóloga Juliana Gebrim considera que a abordagem pode ter um impacto significativo nas pessoas que têm tendências suicidas. “Quando abordado de maneira responsável e sensível, pode ajudar a aumentar a conscientização e encorajar as pessoas a buscar ajuda. No entanto, uma abordagem sensacionalista e gráfica pode ter efeitos negativos nas pessoas vulneráveis. É importante que os jornais abordem o tema com responsabilidade, evitando detalhes gráficos e fornecendo informações sobre recursos de prevenção e apoio”, avalia.
Busque ajuda
Está passando por um período difícil? O Centro de Valorização da Vida (CVV) pode ajudar por meio do número 188. A organização atua no apoio emocional e na prevenção do suicídio, atendendo, voluntária e gratuitamente, todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo, podem buscar ajuda por telefone, e-mail, chat e Skype, 24 horas, todos os dias.
O Núcleo de Saúde Mental (Nusam) do Samu também é responsável por atender demandas relacionadas a transtornos psicológicos. O Núcleo atua tanto de forma presencial, em ambulância, como à distância, por telefone, na Central de Regulação Médica 192.
Na rede pública da saúde, a assistência psicológica pode ser encontrada nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPs), hospitais e unidades básicas de Saúde.
O UniCeub também oferece atendimento. Pela taxa de R$ 40, crianças, a partir de 4 anos, adolescentes, adultos, casais e famílias podem ser atendidos. As consultas acontecem no Edifício União, localizado no Setor Comercial Sul. Após a avaliação psicológica do paciente, as consultas são agendadas uma vez por semana, com o apoio dos alunos do curso de psicologia. Os interessados podem agendar o atendimento por telefone (61) 3966-1626, ou presencialmente, no Edifício União.
A Universidade Católica de Brasília (UCB) também oferece esse tipo de acompanhamento. O atendimento terá novas vagas a partir de março de 2024. No momento, a clínica oferece o plantão psicológico, ou seja, atendimento em sessão única voltado para casos de emergência, quando o paciente está em crise depressiva, por exemplo.
O plantão acontece às terças e quintas, das 8h30 às 11h30 e das 13h30 às 17h30. Tem um horário extra à note, às 20h30. Cada atendimento dura de 50 minutos a uma hora. Este ano, o plantão vai funcionar até 30 de novembro.
Os canais de contato são Telefone (61) 3356-9328 e WhatsApp (61) 99267-0473.