São Paulo — A área de concessão da Enel na Grande São Paulo conta com regiões que diferem das demais por terem um sistema de fornecimento de energia elétrica que não é apenas enterrado. Eles são chamados de reticulados, uma espécie de rede subterrânea que faz com que a eletricidade procure um novo caminho sempre que uma passagem sofre alguma pane.
Esses sistemas não são imunes a apagões, como o que deixou mais de 2,1 milhões de imóveis sem luz no início do mês, embora a chance de que ocorram são bem menores. A Enel foi questionada pelo Metrópoles no último dia 8/11 a respeito dos reticulados em operação em São Paulo, mas não se manifestou até a última sexta-feira (17/11), nove dias depois do pedido.
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Árvore derrubada pelo vento durante temporal na Vila Mariana, em São Paulo
William Cardoso/Metrópoles
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Chuvas causam problemas em São Paulo
Bruno Ribeiro/Metrópoles
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Chuvas causaram estragos em posto de gasolina
Reprodução
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Chuvas causam problemas em São Paulo
Bruno Ribeiro/Metrópoles
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Raposo Tavares ficou travada após a queda de uma árvore
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Árvore cai em cima de ônibus na Estrada do M’Boi Mirim
Reprodução/Redes sociais
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Árvore caída na Anchieta
Ecovias
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Temporal causou queda de árvores em diversos pontos da capital
William Cardoso/Metrópoles
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Onde fica a rede mais confiável
Nos 24 municípios sob concessão, a Enel conta com 143 conjuntos elétricos, como são chamadas as regiões de distribuição de energia. O tamanho e a localização não têm relação nenhuma com a divisão administrativa dos bairros ou das cidades, embora sejam identificados com eles por proximidade.
Na capital paulista, dois desses sistemas trazem a rede mais eficiente no nome. São o Bandeirante-Reticulado e o Miguel Reale-Reticulado. O primeiro está instalado em parte pequena do Itaim Bibi, bairro nobre da zona oeste, nas proximidades da Rua Bandeira Paulista. Já o segundo fica na região próxima à Praça da Sé e à Liberdade.
A Enel não informou se há mais desses sistemas em operação atualmente e nem mesmo confirmou se houve alteração no modelo adotado por esses dois, apesar do nome.
Quem vive ou trabalha na área do Bandeirante-Reticulado diz que não costuma passar tanto aperto durante temporais. O comerciante José Ribeiro, de 79 anos, tem uma loja na Rua Tabapuã, no Itaim Bibi, e afirma que ao longo de 22 anos ficou sem energia elétrica em apenas duas oportunidades, a última delas há mais de 10 anos.
“Os fios são enterrados. Essa rede que tem aqui nos postes só passa para abastecer outra área”, diz.
Durante o temporal do último dia 3/11, quando a Enel deixou imóveis sem luz por até cinco dias, a loja de Ribeiro permaneceu intacta. “Não aconteceu nada, tudo funcionou normalmente”, diz a irmã dele, Maria Augusta, 72 anos, que estava no local durante a tempestade.
A reportagem conversou com outras pessoas da área do reticulado que atende à parte pequena do Itaim Bibi. Durante o temporal do início de novembro, o máximo que notaram foram interrupção de minutos no fornecimento de energia ou piscadas na luz.
Como funciona o sistema reticulado
O sistema reticulado funciona como uma malha que oferece vários caminhos para a transferência de energia. É diferente do radial, esquema usado nos cabos sobre os postes, por exemplo.
“Se um trecho da rede for afetado por uma falha, a energia pode ser redirecionada por outras rotas, minimizando a interrupção do fornecimento. A presença de múltiplos caminhos para a transferência de energia aumenta a confiabilidade do sistema. Se um caminho estiver comprometido, outros podem ser utilizados”, afirma Michele Rodrigues, professora de engenharia elétrica da FEI (Fundação Educacional Inaciana).
Segundo a professora, o sistema reticulado pode custar até quatro vezes mais que o de fios enterrados convencionalmente. Já o modelo de enterramento de fios convencional pode ser 10 vezes mais caro que aquele sobre os postes e suscetíveis a danos causados por queda de árvores, por exemplo, como ocorreu no temporal do início deste mês.
“No reticulado, o sistema de proteção é mais sofisticado e mais caro, principalmente devido ao uso do dispositivo ‘network protector’, que tem por finalidade isolar automaticamente a parte do sistema em defeito e ele continuar a operar mesmo com uma porção desenergizada e isolada”, afirma Nelson Kagan, professor do Departamento de Engenharia de Energia e Automação Elétricas da Escola Politécnica, da Universidade de São Paulo (USP).
Apesar de ser um sistema com redundância (quando um caminho falha o outro supre a necessidade), não significa que seja à prova de tudo, explica Kagan. Se linhas de transmissão forem atingidas, por exemplo, tudo quem vem depois delas é afetado, sejam fiações subterrâneas ou aéreas, em cima dos postes.
Passado e futuro
Apesar da eficiência, o reticulado não é uma novidade. Há registros da instalação desse sistema em São Paulo ainda no começo do século passado, com equipamentos menos modernos do que os atuais.
Diretor do Departamento de Desenvolvimento de Tecnologia, Indústria, Energia e Telecomunicações do Instituto de Engenharia, Aléssio Bento Borelli também ressalta que desde aquela época existia a preocupação em colocar transformadores, chaves e cabos de melhor qualidade nessas redes, porque a manutenção subterrânea é mais complicada do que aquela feita nos postes. “Você tem enterrar transformadores, chaves. São transformadores especiais, com refrigeração própria, selados”, diz.
Borelli afirma que a falta de manutenção em redes subterrâneas de energia pode ocasionar uma série de acidentes, como aqueles ocorridos no Rio de Janeiro em um passado recente, quando tampas de poços de visita voavam após explosões.
Segundo o diretor do Instituto de Engenharia, diante do alto custo e das dificuldades de se implantar redes subterrâneas em uma cidade como São Paulo, o melhor seria investir em redes compactadas, podas eficientes e plantio de árvores compatíveis com o ambiente urbano.