A posição contrária da Procuradoria-Geral da República (PGR) à delação do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), não impede que o acordo seja firmado. Juristas ouvidos pelo Metrópoles explicam que a manifestação da procuradoria não invalida a delação, e que a palavra que vale é a do Supremo Tribunal Federal (STF), que confirmou o acordo.
O ministro do STF Alexandre de Moraes homologou, no último sábado (9/9), o acordo de delação premiada entre o tenente-coronel e a Polícia Federal, mesmo com manifestação contrária da PGR. Ainda no sábado, o procurador-geral da República, Augusto Aras, comentou o caso, dizendo que a procuradoria “não aceita delações conduzidas pela PF” justificando, então, a posição tomada pelo órgão.
Em 2018, no entanto, o Supremo decidiu que a PF pode negociar e celebrar acordos de delação premiada sem o aval do Ministério Público. O entendimento dos ministros à época era de que a permissão não fere a Constituição Federal.
Tenente-coronel do Exército Brasileiro, Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, fica em silêncio durante sessão da CPMI do 8 de Janeiro
Tenente-coronel do Exército Brasileiro, Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro
Vinícius Schmidt/Metrópoles
Tenente-coronel do Exército Brasileiro, Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, fica em silêncio durante sessão da CPMI do 8 de Janeiro
Tenente-coronel do Exército Brasileiro, Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro
Vinícius Schmidt/Metrópoles
Tenente-coronel do Exército Brasileiro, Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, fica em silêncio durante sessão da CPMI do 8 de Janeiro
Tenente-coronel do Exército Brasileiro e ex-ajudante de ordem de Bolsonaro, Mauro Cid fica em silêncio durante sessão da CPMI do 8 de Janeiro
Vinícius Schmidt/Metrópoles
Mauro Cid e o pai
General Mauro Lourena Cid e o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid, foram alvos de operação da PF nesta sexta (11/8)
Reprodução
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O general Lourena Cid: pai do ex-ajudante de ordens foi tragado para dentro da investigação
Alesp/Divulgação
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Mauro Cid cita Michelle Bolsonaro em conversas com outros assessores
Arte sobre foto de Vinicius Schmidt e Igo Estrela/Metrópoles
Mauro Cid filma live do Presidente Jair Bolsonaro chegam ao palácio Alvorada
Cid filma live de Bolsonaro
Igo Estrela/Metrópoles
presidente Jair Bolsonaro e Mauro Cid conversam na rampa do Planalto
Bolsonaro e seu ajudante de ordens à época do governo
Rafaela Felicciano/Metrópoles
presidente Jair Bolsonaro e Mauro Cid descem a rampa do Planalto
Jair Bolsonaro e Mauro Cid
Hugo Barreto/Metrópoles
Bolsonaro e Mauro Cid
Jair Bolsonaro e Mauro Cid
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Jair Bolsonaro e Mauro Cid
Jair Bolsonaro e Mauro Cid
Reprodução
O presidente Jair Bolsonaro e Mauro Cid conversam durante participa da solenidade em homenagem ao dia do Soldado no QG do Exército
Então ajudante de ordem Mauro Cid e presidente Jair Bolsonaro
Andre Borges/Especial Metrópoles
mauro Cid e Bolsonaro durante posse presidencial 2019 no Senado Federal
Mauro Cid e Bolsonaro durante a posse presidencial em 2019
Rafaela Felicciano/Metrópoles
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Monopólio
Ao Metrópoles, o ex-ministro do STF Marco Aurélio Mello lembra do julgamento e comenta que a procuradoria “sempre sustentou que teria o monopólio da delação”. “E nós, no Supremo, entendemos que não, como está previsto na Constituição Federal”, frisou.
Mello explica que o Ministério Público deve ser ouvido e poderá sustentar o que quiser, mas que a definição final cabe ao Supremo. “O órgão máximo da República é o Supremo. O Ministério Público é o fiscal da lei e atua opinando nos processos, mas sem capacidade de decisão em termos jurisdicionais”, afirmou.
O advogado criminalista Antônio Carlos de Almeida Castro, conhecido como Kakay, também frisou que a posição da PGR de nada atrapalha a delação já homologada. “Ele [Aras] pode ter a opinião dele, se posicionar, mas isso não impacta”, disse.
Vice-presidente da Associação Brasileira dos Advogados Criminalistas (Abracrim), Adriana Spengler também reitera o mesmo entendimento, e frisa que a questão foi decidida em 2018. “O desconforto da PGR com delações nesse formato não é de hoje. Assim aconteceu com a do Palocci e do Cabral”, explicou.
Os casos de Antonio Palocci, ex-ministro de Lula e de Dilma Rousseff, e do ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral foram, inclusive, citados por Aras ao comparar com a delação de Cid. Mesmo com o entendimento de 2018 do Supremo, em 2021 o colegiado derrubou a delação de Cabral após recurso da PGR, entendendo que neste caso específico deveria ter havido anuência do Ministério Público.
Adriana explica que a questão central no caso foi a apresentação de narrativas complementares pela PF após a homologação, o que foi considerado inoportuno. A advogada ressalta que essa decisão não teve repercussão geral — ou seja, não impacta na regra em relação às outras delações premiadas.
Bolsonaro
Por outro lado, a defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro ainda não firmou posicionamento sobre se irá recorrer da decisão judicial que homologou a delação premiada de Cid. Na tarde de segunda (11/9), o advogado Fabio Wajngarten usou as redes sociais para negar que exista uma contestação judicial à vista. “Ninguém da defesa do [ex-] presidente sequer conversou, cogitou ou aventou referido movimento”.
Também na segunda, o ministro Alexandre de Moraes, do STF, negou pedido dos advogados de Bolsonaro, que pretendiam ter acesso a um depoimento recente do ex-ajudante de ordens a respeito da investigação envolvendo as joias sauditas. Na mesma data (31/8) em que várias pessoas foram convocada à PF no mesmo horário para falar sobre o caso, Bolsonaro e a esposa, Michelle, preferiram ficar em silêncio. Já Cid e seu pai, o general Lourena Cid, falaram durante horas.
Quem é Cid?
Ex-chefe da Ajudância de Ordens de Bolsonaro, departamento que cuida de assuntos de natureza pessoal do presidente, Cid se tornou uma espécie de “faz-tudo” da família do então chefe do Executivo. O tenente-coronel é íntimo dos assuntos mais polêmicos do entorno de Bolsonaro, desde as suspeitas de venda de joias e presentes que deveriam ter sido incluídos no patrimônio da União a atos golpistas e fraude no cartão de vacinação do ex-presidente.
A lei que trata da delação premiada é de 2013, e prevê que o colaborador “deve narrar todos os fatos ilícitos para os quais concorreu e que tenham relação direta com os fatos investigados”.
Antes de Cid firmar um acordo com a PF, ele depôs por horas na sede da corporação, em Brasília. O acordo serve para que a polícia colete mais informações que possam clarear as investigações. O colaborador, por outro lado, recebe um prêmio, que pode ser a redução ou até o perdão da pena.