São Paulo — O prefeito da capital, Ricardo Nunes (MDB), está “decepcionadíssimo” com Marta Suplicy por causa da decisão dela de aceitar o convite de presidente Luiz Inácio Lula da Silva para voltar ao PT e ser vice do deputado federal Guilherme Boulos (PSol) na eleição deste ano, fato considerado uma “traição” pelo emedebista.
A saída de sua agora ex-secretária de Relações Internacionais o machucou mais, de acordo com esses auxiliares, pela forma como o processo foi conduzido, sem comunicá-lo de nenhuma movimentação.
Nunes e Marta não conversaram em nenhum momento sobre a possível saída dela antes da reunião que selou a ruptura, na tarde desta terça-feira (9/1), na Prefeitura.
O Metrópoles revelou, em 7 de dezembro, a intenção de Lula o PT em convidar a ex-prefeita para voltar ao partido e disputar a eleição ao lado de Guilherme Boulos (PSol). Na ocasião, Nunes primeiro não acreditou na possibilidade.
Depois, diante de novas notícias confirmando o fato e até falando de tentativas de contato já realizadas entre Marta e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ele achou melhor não fazer movimentos e aguardar que ela o procuraria, baseado em uma relação de lealdade que ele esperava dela, ainda de acordo com seus auxiliares.
Contudo, no lugar disso, Marta avisou que sairia de férias por um mês e deixou de dar expediente no 11º andar da Prefeitura, onde despacha, seis andares acima do gabinete do prefeito, sem falar diretamente com ele.
No dia 16, quando Lula estava em São Paulo e havia notícias de que ele se encontraria com Marta, o chefe de gabinete do prefeito recebeu um telefonema da equipe da secretária dizendo que ela e o presidente se encontrariam.
Lula estava em São Paulo para anunciar obras do Minha Casa Minha Vida que beneficiam o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), grupo do qual Boulos é uma das lideranças.
Mas o encontro terminou não ocorrendo e Nunes, ainda de acordo com aliados, manteve esperanças de que Marta não só o procuraria diretamente como também descartaria a possibilidade de fazer campanha para um adversário.
Neste período, outros aliados de Nunes passaram a lembrar, em conversas reservadas, que Marta já havia feito fortes críticas a Guilherme Boulos e que afirmado que as críticas que ela já havia recebido de petistas interditariam qualquer possibilidade de retorno dela à legenda onde ela nasceu politicamente.
Marta foi filiada ao PT por mais de 30 anos, mas saiu da sigla em 2015 em meio às revelações de escândalos de corrupção durante a Operação Lava Jato. Ela se filiou no mesmo ano ano MDB, partido de Nunes, e chegou a votar a favor do impeachment de Dilma Roussefff.
Porém, depois que Lula foi solto, ela se reaproximou do presidente — a quem sempre admirou — e chegou a atuar pela costura que resultou na indicação de Geraldo Alckmin (PSB) para vice da chapa do presidente.
Paralelamente a isso, na Prefeitura, Marta ocupava uma posição de conselheira, de que Nunes buscava mentoria diante das decisões políticas e administrativas.
Marta chegou na Prefeitura em janeiro de 2021. Ela havia feito campanha no ano anterior por Bruno Covas, de quem Nunes era vice. Marta foi votar com Bruno do dia das eleições de 2020. Após a morte de Covas, ela permaneceu na gestão. Nunes ressaltava, em conversas de bastidores, o respeito que tinha pela então aliada.
Na tarde desta segunda-feira (8/1), depois de ele saber que Marta estava reunida com Lula no mesmo momento em que ele repetia, a jornalistas, que confiava na secretária, o prefeito sentiu o ataque e passou a verbalizar as palavras “traição” e “decepção” aos aliados mais próximos e se abateu.
Seus auxiliares, porém, já preparam uma resposta com ataques ferozes à Marta, nivelando as críticas ao mesmo patamar aos que Nunes já vem fazendo a Boulos.