Há exatamente um ano, Luiz Inácio Lula da Silva engoliu a seco a recusa do Exército em respeitar a ordem que lhe dera seu comandante supremo – no caso, ele, eleito presidente da República em 30 de outubro de 2022, diplomado pela Justiça em 12 de dezembro e empossado pelo Congresso apenas uma semana antes.
Lula mandara prender os bolsonaristas abrigados à porta do QG do Exército, em Brasília, que na tarde daquele dia, escoltados pela Polícia Militar do Distrito Federal, invadiram e destruíram parte das instalações do Palácio do Planalto, do Congresso e do Supremo Tribunal Federal.
O então comandante do Exército, o general Júlio César de Arruda, com o apoio de parte dos seus colegas do Alto Comando da arma, simplesmente disse não. Riscou uma linha no chão, à entrada do QG, movimentou tanques e tropas, e disse: daqui não passam.
De fato, dali não passou um destacamento da Polícia Militar encarregado de cumprir a ordem presidencial. Foi o ato mais escancarado de anarquia militar que o país assistiu desde o fim da ditadura militar de 64.
O troco foi dado no último fim de semana pelo próprio Lula. E desta vez foi o Exército, e seus cúmplices no golpe planejado para enterrar a democracia brasileira, que tiveram de engolir a seco a grave denúncia feita pelo presidente.
Segundo ele, havia um pacto entre o ex-presidente Jair Bolsonaro, o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, a Polícia do Distrito Federal e a Polícia do Exército durante os ataques a Brasília no dia 12 de dezembro de 2022. Na data da diplomação de Lula no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), houve queima de veículos e tentativa de invasão da sede da Polícia Federal.
Houve também um atentado frustrado a bomba nos arredores do aeroporto de Brasília, na véspera do Natal. O movimento escalou e, em 8 de janeiro do ano passado, ocorreu a invasão às sedes dos três Poderes.
Lula com a palavra:
“Tinha havido aquela atuação canalha que envolveu inclusive gente de Brasília, quando tacaram fogo em ônibus no dia em que fui diplomado. Eu estava no hotel assistindo a eles queimando ônibus, carros, e a polícia acompanhando sem fazer nada. Aquilo não poderia acontecer se o Estado não quisesse que acontecesse”.
Por mais que os dois lados neguem, tão cedo cicatrizarão as feridas abertas pelo golpe nas relações entre Lula e os militares. A farda terá que engolir Lula porque não tem outro jeito. Lula engolirá a farda sem jamais acreditar na sua conversão à democracia.
Tende a aumentar a justa pressão para que os golpistas fardados ou não sejam julgados e severamente punidos. Sem anistia.