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Válvula de escape (por Antonio Rodrigues)

Dividir para reinar é tão velho como os sistemas políticos. Os monarcas sempre o usaram para enfraquecer os ambiciosos com um olho no trono. Os políticos no poder fazem-no para pôr os opositores uns contra os outros. O capitalismo sempre o usou para os pobres não perceberem a força que têm.

O escritor Javier Cercas explica que o falhanço da República espanhola foi não ter percebido que, ao radicalizar-se, estava a fazer com que uma ideia justa se transformasse numa luta entre os pobres mais miseráveis e os pobres que continuavam pobres, só não passavam fome.

O que tem vindo a acontecer às democracias é que a divisão se atomizou. O capitalismo encontrou nas redes sociais (vendidas como o último espaço de liberdade) um campo fértil para multiplicar as divisões: e reinar. Como é que se explicaria a fortuna gasta por Elon Musk para comprar o Twitter, que perdeu em média 221 milhões de dólares por ano entre 2010 e 2021?

É assim neste mundo de erva verdejante (mais verdejante pelo uso de pesticidas) – em que qualquer pessoa “tem” direito à sua opinião sobre “tudo” e é rápida a discordar das opiniões dos demais – que a extrema-direita viceja.

Disfarçados de anti-sistema, com um discurso falsamente disruptivo (sempre com a corrupção e o ódio ao outro como base para a demagogia, que rima com magia, mas é apenas truque barato), os líderes da extrema-direita servem de marioneta do poder capitalista para acalmar as hordas e seguir com a exploração – o idiota útil que será desactivado quando se tornar um embaraço.

Armados de uma mão-cheia de tudo e outra de coisa nenhuma, impreparados para resolver uma crise que não conseguiriam solucionar nem que a sua vida dependesse disso, mesmo se tivessem essa intenção, servem ao mestre em troca dos holofotes.

“Se é certo que os partidos “reacionários e neofascistas”, como escreveu esta semana Carlos Hortmann no PÚBLICO, “se apresentam como ‘válvula de escape’ para uma grande massa de trabalhadores cansados das incertezas e desesperançados diante da crise capitalista que os empobrece persistentemente”, não nos podemos deixar enganar, a extrema-direita não tem por hábito resolver nada, serve apenas à libertação de gases do enfartado capitalismo.

(Transcrito do PÚBLICO)

 

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