A imprensa brasileira tratou com ligeireza a ausência do presidente francês Emmanuel Macron na Cúpula da Amazônia. O assunto foi abordado como se ele houvesse desprezado a reunião na qual o seu país tem interesse direto, uma vez que a totalidade do território da Guiana está na região amazônica.
Não foi desprezo, mas recado a Lula, hoje visto no Ocidente como parceiro de Vladimir Putin, o invasor da Ucrânia que atenta contra o direito internacional com a mesma frequência com a qual o presidente brasileiro comete erros de português.
Emmanuel Macron queria participar da cúpula dos Brics, a ser realizada daqui a alguns dias na África do Sul. Expressou o seu desejo oficialmente, inclusive. Mas a Rússia disse não e o presidente francês deixou de ser convidado, com a anuência formal de todos os integrantes do Brics, como determina a regra do grupo. A questão é que o Brasil não tentou interceder em favor da França nos bastidores, como poderia ter feito — e Emmanuel Macron, obviamente, não gostou da omissão, interpretada em Paris como mais um sinal do alinhamento de Lula com Vladimir Putin.
Não bastasse a negativa do Brics, a França foi avisada de que participaria como “Estado associado”, não como “Estado amazônico”, na Cúpula da Amazônia, embora a Guiana seja uma região francesa da mesma forma que a Bourgogne.
Sabe como é, não se pode admitir que uma potência europeia com passado colonialista entre no clube sul-americano pela porta da frente, porque isso bagunçaria o leguinho da geopolítica terceiro-mundista e ameaçaria a nossa soberania na região. Traduzindo: ficaria mais difícil bater umas carteiras na Europa, para salvar a floresta, os povos originários e talvez até o bicho-preguiça.
Diante desse outro desaforo, Emmanuel Macron decidiu não comparecer à reunião e apenas enviar uma representação mínima a Belém.
Jair Bolsonaro envergonhou o Brasil no cenário internacional; Lula é falso amigo do Ocidente, como publicou, em junho, o jornal francês Libération, de linha esquerdista, pois é. Continuamos a passar vergonha lá fora, mas agora é com amor.