A divulgação de gravações do ataque do grupo islâmico armado Hamas contra civis em Israel, no último sábado (7/10), acendeu um alerta sobre o uso desse material em grupos extremistas na internet, que incentivam ações violentas e terrorismo.
O ataque levou Israel a declarar estado de guerra e iniciar uma série de bombardeios na Faixa de Gaza. Mais de 3 mil pessoas já morreram até a noite dessa sexta-feira (13/10).
Uma rede de pesquisadores brasileiros que monitora grupos radicais na web acionou o Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP). A assessora de Direitos Digitais da pasta, Estela Aranha, enviou alertas para as principais plataformas digitais, como as gigantes da internet Meta, X (antigo Twitter), Google, TikTok e Discord.
Michele Prado, que pesquisa grupos extremistas on-line, identificou pelo menos 18 vídeos de atos e propaganda terrorista produzidos pelo Hamas, em referência aos atentados em Israel.
“Sábado, ainda de manhã, já tinha começado a disseminar vídeos. Tem vídeos de propaganda do atentado terrorista, comemorando o ataque, criança sendo degolada, adulto sendo decapitado com enxada, uma menina sendo incendiada na rua, famílias sendo incendiadas dentro de carro e animais sendo fuzilados”, descreveu a pesquisadora.
ataque hamas em israel
Explosão causada por ataque do Hamas a Israel
Reprodução/ Twitter
Ataques a Israel
Grupos palestinos quebram cerca na Faixa de Gaza
Ashraf Amra/Anadolu Agency via Getty Images
Homens palestinos confortam uns aos outros enquanto inspecionam o bairro devastado de Karama após o bombardeio israelense na Cidade de Gaza
Homens palestinos confortam uns aos outros enquanto inspecionam o bairro devastado de Karama após o bombardeio israelense na Cidade de Gaza
Mohammed Talatene/picture Alliance via Getty Images
Ataque aéreo a Israel
Ataque de mísseis do Hamas a Israel
Mahmoud Issa/SOPA Images/LightRocket via Getty Images
Soldados carregam o caixão de Valentin (Eli) Ghnassia, 23 anos, que foi morto em uma batalha com militantes do Hamas no Kibutz Be’eeri, perto da fronteira de Israel com a Faixa de Gaza, durante seu funeral em 12 de outubro de 2023 no Cemitério Militar Mount Herzl em Jerusalém, Israel
Soldados carregam o caixão de Valentin (Eli) Ghnassia, 23 anos, que foi morto em uma batalha com militantes do Hamas no Kibutz Be’eeri, perto da fronteira de Israel com a Faixa de Gaza, durante seu funeral em 12 de outubro de 2023 no Cemitério Militar Mount Herzl em Jerusalém, Israel
Alexi J. Rosenfeld/Getty Images
Uma explosão em uma torre residencial causada por ataques israelenses no norte da Faixa de Gaza em 12 de outubro de 2023 na Cidade de Gaza, Gaza
Uma explosão em uma torre residencial causada por ataques israelenses no norte da Faixa de Gaza em 12 de outubro de 2023 na Cidade de Gaza, Gaza
Ahmad Hasaballah/Getty Images
Israeli Airstrike In Gaza After Hamas Attacks
Uma fumaça sobe e uma bola de fogo sobre edifícios na cidade de Gaza
Sameh Rahmi/NurPhoto via Getty Images
Jornalistas Said al-Tavil e Muhammed Sobh são velados na Faixa de Gaza, após ataque de Israel
Jornalistas Said al-Tavil e Muhammed Sobh são velados na Faixa de Gaza, após ataque de Israel
Ahmad Hasaballah/Getty Images
Cenas de destruição na Faixa de Gaza após ataque do Hamas a Israel
Cenas de destruição na Faixa de Gaza após ataque do Hamas a Israel
Ashraf Amra/Anadolu via Getty Images
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Estratégia midiática
Relatório do Instituto Internacional de Combate ao Terrorismo (ICT) aponta que um dos eixos da atuação do Hamas é a divulgação de “vídeos extremamente violentos que destacam o tratamento desumano que dispensam a civis e militares”. Essa divulgação é feita por canais oficiais ou não.
Segundo o relatório, que analisa de forma preliminar a campanha midiática do Hamas, no ataque de sábado (7/10), foram transmitidas imagens ao vivo produzidas pelos próprios atiradores.
“Não entraremos em detalhes das batalhas no terreno. As nossas sucessivas declarações e comunicações desde o início da batalha são as imagens ao vivo que os nossos mujahideen (combatentes) transmitiram e estão a transmitir a partir do campo, pois testemunham e falam por si”, divulgou o Hamas em comunicado pelo Telegram na segunda-feira (9/10).
Durante o ataque, moradores de Israel foram advertidos a não olhar esse tipo de conteúdo nas redes, pois poderiam identificar algum familiar ou amigo.
Perigo de gatilho
A pesquisadora Michele Prado aponta que os grupos extremistas na internet que usaram imagens do Hamas incentivam ações violentas, como o ataque a escolas e mulheres.
“A radicalização on-line ocorre com muitos vetores — não é só o que o indivíduo está vendo na web que faz ele cometer o atentado —, mas, quando ele passa a ser exposto a conteúdos que glorificam terrorismo, que trazem o terrorismo violento como solução política ou legítima, aquilo serve como gatilho”, explica.
Michele cita como exemplo pequenos vídeos compartilhados nesses grupos, em que se sobrepõem várias cenas de atentado terrorista e massacres. Esse tipo de conteúdo serve como propaganda para inspirar pessoas a cometer atentados, segundo a pesquisadora.
Vídeos desse tipo foram muito compartilhados durante o mês de abril, quando o Brasil viveu uma crise de ameaças e tentativas de ataques em escolas. Mais de 300 suspeitos acabaram presos.
A iniciativa Stop Hate Brasil, criada por Michele, divulgou recomendações e estratégias para ajudar as famílias na proteção de crianças e adolescentes, considerados mais vulneráveis a esses grupos extremistas.
Entre as recomendações estão a criação de regras para uso consciente da internet, utilizar programas de controle parental, acompanhar as atividades on-line dos jovens, educação emocional e incentivar atitude crítica em relação ao consumo de conteúdo na internet.
Alerta do governo
A assessora de Direitos Digitais do Ministério da Justiça, Estela Aranha, disse que entrou em contato com todas as principais plataformas, avisando sobre a divulgação de imagens de extrema violência. Todas as redes responderam e se mostraram à disposição para resolver o problema.
Depois do aviso do governo, plataformas como o TikTok tiraram vários conteúdos violentos do ar. Estela também percebeu diminuição de imagens sensíveis no X (antigo Twitter). No caso do aplicativo de mensagens russo Telegram, não há canal de comunicação com o governo. “Telegram é uma terra sem lei”, avalia a assessora de Direitos Digitais.
Uma operação da Polícia Federal (PF), em agosto deste ano, identificou adolescentes entre 15 e 16 anos que estavam sendo recrutados para a organização jihadista Estado Islâmico (Isis) pelo aplicativo Telegram.