O Banco do Brasil (BB) fez duras críticas e levantou suspeita sobre o pedido de recuperação judicial (RJ) apresentado à Justiça de São Paulo pelo empresário Washington Cinel, dono do grupo que controla a Gocil, uma das maiores empresas de segurança privada do país.
A instituição financeira afirma que Cinel “ostenta uma vida de luxo” e que quer viver às custas de seus credores. O banco pediu à Justiça paulista que obrigue o empresário a explicar seu patrimônio e que seja feita perícia para constatar se ele, de fato, está em crise apta a justificar sua recuperação judicial.
Com dívidas de R$ 1,7 bilhão, Cinel, que é dono de fazendas e do grupo Gocil, entrou com pedido de recuperação judicial no fim de setembro. Ele afirma que o Grupo Handz, que controla suas empresas, acabou enrolado com empréstimos que contraiu com bancos.
O Banco do Brasil é um dos grandes credores de Cinel. A defesa do empresário apresentou planilhas com centenas de páginas empresas com as quais têm dívidas. O Metrópoles identificou pelo menos R$ 206 milhões somente com o BB. Entre as garantias, estão papéis sobre a produção das fazendas e maquinário.
O banco ressaltou que Cinel teve lucro de R$ 63 milhões somente nos últimos três anos. O BB diz ainda que a Justiça não pode aceitar pedidos de recuperação de empresas que não estão em crise, sob pena de conceder “blindagem de seu patrimônio”.
Segundo o BB, “é público e notório o estilo de vida de luxo e ostentaçãodo Sr. Washington, colecionando de obras de arte, vivendo em mansão no Jardim Europa, com proporções de áreas rurais, dentre outras regalias”. E, que a recuperação judicial não foi feita para a “preservação de empresários superavitários, que se socorrem-se do beneplácito legal para manter uma vida de luxo em detrimento de uma maioria de credores menos abastados”.
O BB ainda afirma que o que Cinel pretende “é uma distribuição de renda às avessas, nas quais os credores que lutam para pagar suas contas cotidianas, se sacrificariam para manter o luxo e ostentação do devedor”.
“Nessa esteira, anota-se que a recuperação judicial pressupõe o sacrifício financeiro de todos, que sempre colaboraram para o crescimento da empresa, não sendo minimamente justo impor esse sacrifício aos credores,sem que o empresário mova sequer um grão de areia de sua vida luxuosa para preservação da própria empresa, especialmente quando ele, conforme demonstrado acima, tem plenas condições econômicas de fazê-lo, sem o requerimento da proteção recuperacional”, diz o banco.
Como usual, o juiz do caso nomeou um perito para fazer um relatório sobre a situação das empresas de Cinel. Em casos de recuperação judicial – processo destinado ao saneamento das contas e continuidade da empresa -, é preciso constatar o funcionamento das companhias para evitar que se autorize o processo em casos que poderiam, por exemplo, ser declarados como falência – situação em que a empresa fecha as portas e seus ativos são todos liquidados.
O laudo da perícia constatou que fazendas de Cinel têm forte presença de funcionários e maquinários agrícolas, e que suas empresas estão funcionando em diversos estados. O BB quer que a Justiça obrigue o perito nomeado ao caso para que analise a “real situação financeira” das empresas.
Como mostrou o Metrópoles, uma das empresas de Cinel tomou empréstimos de R$ 510 milhões apenas dois meses antes de pedir a recuperação judicial. E, deu uma de suas fazendas como garantia do empréstimo concedido pelo Banco do Nordeste, dominado por políticos do Centrão. Na prática, o movimento pode dificultar que credores tomem o imóvel, que tem o tamanho de 21 mil campos de futebol.