São Paulo — Estatísticas oficiais mostram que a Polícia Militar paulista foi responsável por 61% das mortes violentas nas cidades de Santos e Guarujá, na Baixada Santista, nos oito primeiros meses deste ano.
Entre janeiro e agosto ocorreram ao menos 54 óbitos em circunstâncias violentas nas duas cidades do litoral paulista. Desse total, 33 foram provocadas por policiais militares em serviço, durante supostos confrontos com suspeitos.
Os dados são do Ministério Público de São Paulo (MPSP) e da Secretaria da Segurança Pública (SSP).
O número expressivo de mortes violentas na região ocorre após o início da Operação Escudo, deflagrada em 28 de julho, após o assassinato do soldado Patrick Reis, das Rondas Ostensivas Tobias Aguiar (Rota), a tropa de elite da PM.
Ele foi ferido a tiros durante patrulhamento na comunidade Vila Júlia, no Guarujá, onde metade das 36 mortes violentas registradas em todo o ano ocorreram pelas mãos de PMs entre julho e agosto, meses em que a corporação enviou reforço policial para a operação no município.
Por causa do Porto de Santos, usado pelo Primeiro Comando da Capital (PCC) para enviar toneladas de drogas para a Europa, a Baixada Santista virou reduto de traficantes e viu subir os índices de criminalidade nos últimos meses.
A primeira fase da Operação Escudo durou 40 dias e resultou em 28 mortes na Baixada Santista. As ocorrências são investigadas pelo Ministério Público de São Paulo (MPSP), que apura denúncias de torturas e assassinatos de inocentes nas incursões policiais nas comunidades. O governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) nega ter havido excessos.
Rafael Rocha, coordenador de projetos do Instituto Sou da Paz, diz que o aumento da letalidade policial, não apenas no litoral mas em todo território paulista, resulta de uma “política de enfraquecimento” das “bem sucedidas medidas de controle do uso da força adotadas pela PM”, como as câmeras corporais, por exemplo.
Ele também destaca que a Operação Escudo, que ajudou a “agravar” o número de mortes provocadas por PMs em serviço, “segue em curso”.
Versões de PMs em xeque
Como mostrado pelo Metrópoles, laudos da Polícia Técnico-Científica colocam em xeque versões apresentadas por policiais militares para as mortes ocorridas em supostos tiroteios durante a Operação Escudo na Baixada Santista.
O caso que mais chama a atenção é o de Jefferson Ramos Diogo, de 34 anos. Segundo os laudos, os PMs dispararam oito tiros de fuzil contra ele, na noite do dia 29 de julho, um sábado, no Guarujá. Quatro dos disparos o atingiram — no queixo, nas costas, na perna esquerda e no braço direito.
Na ocasião, um PM relatou que fazia patrulhamento com mais dois policiais, todos armados com fuzis, quando avistaram três suspeitos, sendo dois armados com pistolas e outro carregando uma mochila. Ao avistar a viatura, Jefferson teria apontado uma pistola na direção dos agentes. Não há menção a tiros efetuados pelo rapaz no boletim de ocorrência.
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PM da Rota Patrick Bastos Reis baleado e morto durante patrulhamento no Guarujá
Divulgação/Polícia Militar
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Policiais da Rota baleados no Guarujá foram socorridos no Pronto Atendimento Municipal da Rodoviária
Reprodução
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Soldado da Rota foi morto quando fazia patrulhamento no litoral paulista
Reprodução/Redes Sociais
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PM declara luto pela morte de Patrick Bastos Reis, policial da Rota morto no Guarujá
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Viatura da Rota desce em direção ao litoral paulista
Renan Porto/Metrópoles
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Integrante da Rota em policiamento no Guarujá
Divulgação/Rota
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Denunciados por participação na morte de PM da Rota no Guarujá: Erickson David da Silva, Kauã Jazon da Silva e Marco Antonio, o Mazzaropi
Arte/Metrópoles
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Policiais da Rota em operação em São Paulo
Divulgação/Rota
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Policiais militares comemoraram nas redes sociais mortes de suspeitos na Operação Escudo, deflragrada no litoral sul paulista após o assassinato do soldado da Rota
Reprodução
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No relato, um dos PMs afirma ter dado cinco tiros de fuzil e outro, três. Mesmo com o suspeito fuzilado, um policial militar reforçou em depoimento que “seguiu o indivíduo alvejado” e percebeu que ele estava armado “de forma ameaçadora”. Por isso, o PM “necessitou realizar novos disparos”. Somente após mais tiros, “a situação foi apaziguada”.
Apenas cinco horas após o registro da ocorrência pelos policiais, o BO foi atualizado com a informação de que havia tido troca de tiros com o suspeito morto, já na madrugada do domingo (30/7).
“Criminosos que optam pelo confronto”, diz SSP
Em nota encaminhada ao Metrópoles, a SSP afirmou que a causa das mortes provocadas por PMs “não é a atuação da polícia”, alegando que elas decorrem “da ação dos criminosos que optam pelo confronto.”
Segundo a pasta, “todos os casos dessa natureza são investigados, encaminhados para análise do Ministério Público e julgados pelo Poder Judiciário”, incluindo os casos da Operação Escudo, “deflagrada para sufocar o tráfico de drogas na Baixada Santista”, diz a nota.
A pasta disse ainda investir no treinamento das forças de segurança e em políticas públicas “para reduzirr as mortes em confronto.”