São Paulo — O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) investiga denúncias de obras de arte desaparecidas há décadas da Igreja do Carmo, em Itu, no interior de São Paulo, que foram encontradas em um hotel de luxo na capital paulista e no acervo do artista plástico e colecionador Emanoel Araújo, morto no ano passado.
Conforme publicado pelo Fantástico, da TV Globo, uma escultura de São Jorge foi encontrada em exposição no hotel Unique, que fica no bairro Jardim Paulista, zona oeste de São Paulo. A peça de 1,70 m é considerada patrimônio cultural histórico e não deveria sair das dependências da igreja. Ela constava como desaparecida há mais de cinco décadas.
A obra tem quase 200 anos e recebeu itens inexistentes na escultura original, como um cavalo e um dragão. Os detalhes da armadura são cobertos de ouro, mas ela está desmontada e precisa de restauração. Um turista teria a derrubado após subir no cavalo do canto, segundo a reportagem. O acidente com a obra não teria sido o único – há vários casos registrados de danos à estrutura.
O paradeiro da escultura foi denunciado pelo museólogo Emerson Ribeiro Castilho, que pesquisou por anos a história das obras das igrejas tombadas de Itu. “Nós temos mais de 178 itens tombados em cada igreja, mas muitas peças foram subtraídas. Hoje, a gente tem a subtração de mais de 40 peças”, disse Emerson, ao Fantástico.
O Metrópoles questionou o hotel Unique sobre a incorporação da obra em suas instalações e de que forma ela foi adquirida, mas não obteve retorno até a publicação desta reportagem. O espaço segue aberto para manifestações.
Outra obra desaparecida
A pintura “Cristo Escoltado” também estava listada como desaparecida da Igreja do Carmo. A obra foi comprada e vendida por vários colecionadores. Atualmente, o quadro está no acervo do fundador do Museu Afro Brasil e fazia parte do catálogo de leilões previsto para acontecer nesta segunda-feira (25/9). O Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) solicitou a suspensão do evento, segundo a reportagem.
Na lista do leilão, a obra apresenta outro nome — Martírio de Jesus — com lance mínimo de R$ 40 mil. O Iphan enviou um ofício para que a peça fosse retirada do acervo de Emanoel Araújo, porque a obra é tombada e não pode ser vendida.
sao jorge
Escultura de São Jorge tem 1,70m e quase 200 anos
Reprodução/TV Globo
escultura sao jorge original
Escultura original de São Jorge, da Igreja do Carmo
escultura sao jorge
Foto recente de escultura de São Jorge, com cavalo e dragão
cristo escoltado
Pintura “Cristo Escoltado”
pintura leilao
Imagem do catálogo do leilão do acervo pessoal de Emanoel Araújo
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“O processo de inventário do Emanuel Araújo é um processo público e transparente. Se amanhã essa obra for identificada como uma obra necessária para esse acervo, certamente haverá uma facilitação, uma possibilidade de ela ser arrematada por quem [for] de interesse”, afirmou o advogado Rubens Nalves ao Fantástico.
O Metrópoles entrou em contato com o Ibram e com o Iphan para obter detalhes da denúncia, além de um possível indiciamento dos detentores das obras desaparecidas. Não houve resposta até a publicação da matéria. O espaço segue aberto para manifestações.
