São Paulo — Mesmo com o recente afago do prefeito da capital, Ricardo Nunes (MDB), a Jair Bolsonaro (PL), com direito a visita ao ex-presidente no hospital onde ele ficou internado na semana passada, em São Paulo, os bolsonaristas decidiram mudar a estratégia política nesse período de pré-campanha eleitoral.
Em vez de priorizarem a aliança com Nunes, o que abarcaria cargos na Prefeitura de São Paulo e a vaga de vice na chapa à reeleição do prefeito, aliados de Bolsonaro pretendem, ao menos publicamente, ignorar o emedebista e centrar os ataques no deputado federal Guilherme Boulos (PSol), principal rival na disputa.
Apoiado pelo PT do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Boulos é considerado um “inimigo comum” por Nunes e pelos bolsonaristas. Impedir a vitória do deputado do PSol na maior cidade do país foi o que aproximou Bolsonaro do prefeito paulistano neste ano.
Nunes busca o apoio de Bolsonaro à sua reeleição, para evitar que uma candidatura bolsonarista lhe tire votos dos eleitores de direita, mas não quer ficar associado à imagem do ex-presidente por causa do alto índice de reejeição a Bolsonaro na capital — segundo o Datafolha, 68% dos eleitores não votariam em um nome indicado pelo ex-presidente para prefeito.
Em reservado, aliados de Nunes já temem que o prefeito paulistano vire alvo de ataques da militância bolsonarista nas redes, assim como ocorreu com o ex-governador paulista João Doria, que se elegeu em 2018 pegando carona no bolsonarismo e depois rompeu com o ex-presidente.
O alerta no grupo do prefeito acendeu após as primeiras críticas feitas a Nunes pelo vereador carioca Carlos Bolsonaro (Republicanos), filho 02 do ex-presidente e principal estrategista do bolsonarismo nas redes.
A preocupação entre aliados de Nunes é que uma eventual artilharia bolsonarista contra o prefeito nas redes sociais neste momento impacte o desempenho dele nas pesquisas. Segundo o último Datafolha, Nunes tem 24% das intenções de voto, atrás apenas do deputado federal Guilherme Boulos (PSol-SP), com 32%.
Crise com o bolsonarismo
Como o Metrópoles antecipou no início do mês, aliados de Bolsonaro estão irritados com o que consideram “falta de reciprocidade” no tratamento dado aos bolsonaristas pelo prefeito Ricardo Nunes e passaram a cogitar lançar uma candidatura própria à Prefeitura de São Paulo.
Em julho, a ala mais pragmática do bolsonarismo, que atuou para minar a pré-candidatura do deputado federal Ricardo Salles (PL-SP), cobrou espaço na gestão municipal como “contrapartida” pela ajuda dada para fortalecer o palanque de Nunes na capital.
Além disso, os bolsonaristas reivindicam o posto de vice na chapa do atual prefeito, com o objetivo de derrotarem Boulos, que já tem o apoio do PT do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A aliados, Nunes já descartou dar cargos a representantes do bolsonarismo no primeiro escalão da Prefeitura, com o argumento de que o PL, partido de Bolsonaro, já ocupa uma secretaria (Meio Ambiente) e integra sua base de apoio na Câmara Municipal.
Agora, os bolsonaristas acompanham com indignação uma série de nomes não alinhados ao bolsonarismo sendo especulados para o posto de vice na chapa do prefeito, como o da ex-prefeita e ex-petista Marta Suplicy, atual secretária de Relações Internacionais da gestão emedebista.
Marta foi sondada pelo presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, mas descarta se filiar ao mesmo partido de Bolsonaro. O gesto de Valdemar foi visto como um acinte pelos bolsonaristas, que se sentem cada vez mais escanteados na discussão sobre a composição da chapa.
Incomodado com o isolamento de Bolsonaro das negociações envolvendo a aliança pela Prefeitura de São Paulo, o ex-secretário especial de Comunicação e articulador bolsonarista Fabio Wajngarten mandou uma indireta ao prefeito paulistano no início do mês.
“Ninguém, repito, ninguém se apropriará de votos bolsonaristas e deixará Bolsonaro distante. A era dos gafanhotos acabou. Fica a dica”, escreveu Wajngarten nas redes sociais.
Ex-secretário especial de Comunicação e assessor de Bolsonaro, Wajngarten era a principal ponte entre o ex-presidente da República e o prefeito da capital, o que o transformou em um dos nomes cotados a vice na chapa de Nunes para a eleição do ano que vem.
Publicamente, Nunes tem dito que não tem proximidade com Bolsonaro, mas que espera o apoio do ex-presidente à sua campanha pela reeleição para “derrotar a extrema-esquerda”. Segundo o prefeito, não há crise com o bolsonarismo e estão tentando criar “futrica” para prejudicá-lo.